Apneia do sono acelera envelhecimento das células, segundo estudo

Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) também descobriu que um aparelho pode amenizar o problema

Apneia do sono acelera envelhecimento das células
Créditos: iStock/KatarzynaBialasiewicz
Apneia do sono acelera envelhecimento das células

Pessoas com apneia obstrutiva do sono vivenciam repetidas pausas respiratórias ao longo da noite, que podem durar alguns segundos ou até mesmo minutos e são seguidas por despertares que prejudicam a qualidade do descanso.

Se não tratado, o distúrbio pode, com o passar dos anos, causar problemas de saúde, como aumento de risco cardiovascular, hipertensão, insuficiência cardíaca, diabetes e comprometimento da memória e da concentração.

Pesquisa feita na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revelou que a apneia também promove a diminuição dos telômeros. Essas estruturas estão presentes nas extremidades dos cromossomos e têm o papel de manter a integridade do material genético existente no núcleo celular.

Os telômeros naturalmente vão encurtando à medida que as células se dividem para regenerar os tecidos e órgãos do corpo. E quando ficam demasiadamente pequenos, a célula envelhecida para de se multiplicar. Na medida em que acelera esse processo de encurtamento dos telômeros, portanto, a apneia promove o envelhecimento precoce das células.

CPAP ameniza o problema

A boa notícia dos estudos conduzidos na Unifesp é que o problema pode ser amenizado com uso do CPAP – aparelho acoplado a uma máscara que lança ar no nariz durante o sono e regulariza a respiração. Os resultados mais recentes foram divulgados na revista Sleep.

Com apoio da FAPESP, os pesquisadores acompanharam ao longo de seis meses 46 pacientes homens, na faixa etária entre 50 e 60 anos, com apneia do sono moderada ou grave.

Os voluntários estiveram divididos em dois grupos e tratados com CPAP ou um aparelho semelhante, porém, com vazamentos de ar que não permitem o efeito terapêutico e funcionam como placebo.

Uso do CPAP ameniza apneia do sono
Créditos: iStock/cherrybeans
Uso do CPAP ameniza apneia do sono

Resultados

Nas visitas mensais os cientistas checaram a adesão dos pacientes ao aparelho, terapia considerada complexa e incômoda, e coletaram sangue para mensurar o comprimento dos telômeros. Além disso, acabaram sendo analisados no sangue marcadores inflamatórios e de estresse oxidativo.

“O encurtamento dos telômeros é inevitável porque está relacionado à inflamação e ao estresse oxidativo do envelhecimento. Mas descobrimos que pessoas com apneia apresentam uma aceleração desse processo”, explica Priscila Farias Tempaku. Ela é pesquisadora na área de medicina e biologia do sono do Departamento de Psicobiologia da Unifesp e autora do estudo.

Os pesquisadores investigaram ainda os mecanismos moleculares que envolvem a associação entre apneia e telômeros. Um desses mediadores, o marcador inflamatório TNF-α, mostra que provavelmente a via molecular implicada é a inflamação.

“Nos pacientes que usaram o placebo, a molécula se mostrou um fator influente no comprimento dos telômeros. Já naqueles que usavam o CPAP não havia essa associação. O que mostra que, além de sua importância já conhecida na redução do risco cardiovascular e metabólico, o aparelho também diminui a inflamação e, consequentemente, atenua o encurtamento do telômero”, explica Tempaku.

“Esse é um ótimo incentivo, já que a maioria das pessoas resiste a usar o CPAP”, avalia Sergio Tufik. Ele é diretor do Instituto do Sono da Unifesp e coordenador do estudo.

Apneia do sono

A prevalência da apneia vem aumentando paralelamente ao avanço da obesidade, uma vez que as doenças estão frequentemente associadas.

Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica indicam que 70% dos obesos sofrem com o distúrbio do sono. E o índice chega a 80% no caso de obesidade mórbida.

Os principais sintomas da apneia obstrutiva do sono, incluem:

  • ronco;
  • fadiga diurna;
  • diminuição da capacidade de concentração.

O diagnóstico requer um exame conhecido como polissonografia. Já o tratamento, além do uso de CPAP, costuma envolver mudança no estilo de vida, incluindo perda de peso, redução no consumo de bebida alcoólica à noite e de remédios para dormir.

Este texto está publicado na Agência FAPESP e escrito por Julia Moióli.