As duas diferentes reações emocionais à comida

A falta de apetite é uma espécie de resposta “gêmea” a de episódios de exagero alimentar

Entre todas as motivações que nos levam a comer, as emoções acabam performando como uma das mais comuns e pouco reconhecidas. E isso acontece graças à interferência dos padrões de comportamento social aos quais somos expostos. Em episódios de comer emocional, existe o manejo de emoções por meio da comida, seja comendo em excesso em busca de prazer imediato, em detrimento do que se sente, seja parando de comer, como forma de lidar com sentimentos ruins.

É isso mesmo: para algumas pessoas, em momentos difíceis, envolvendo dor, frustração ou profunda tristeza, por exemplo, ocorre falta de vontade ou de apetite para comer. E isso pode se dar em diversas situações e experiências. Comparo essa privação a uma espécie de resposta “gêmea” a de episódios de exagero alimentar: ambas refletem sentimentos no ato complexo da alimentação.

 As emoções interferem podem impactar no comer em excesso ou na falta de apetite
Créditos: dragana991/istock
 As emoções interferem podem impactar no comer em excesso ou na falta de apetite

Ainda nos cabe discutir a oposta valorização das duas maneiras de viver a ligação emoção-comida. Enquanto comer é considerado um problema social, não-comer é visto como uma vantagem. Isso acontece devido à relação social inegável entre magreza e emagrecimento, de um lado, e felicidade, do outro.

E, mesmo que essa premissa seja bastante limitada, ela acaba reforçando estereótipos e padrões de beleza inalcançáveis. A valorização do corpo magro como símbolo de sucesso e saúde, por exemplo, ignora as razões e meios que levam à perda de peso. Fica evidente assim que a gordofobia está definitivamente enraizada em nossos conceitos de bem-estar e saúde física.

O olhar reducionista para a magreza nos permite ignorar questões sérias de saúde sublimadas pela pressão estética. Na tentativa de moldar os corpos ao padrão de beleza atual, ignoram-se questões básicas de bem-estar físico, psíquico, emocional e, obviamente, nutricionais.

Enquanto mantivermos discursos baseados em estética e forma física, nos manteremos afastados do entendimento real de alimentação e de corpos verdadeiramente saudáveis. Ignorar as batalhas travadas por tantos homens e mulheres para melhorar questões profundas e pessoais enquanto valorizamos o número da balança é desprezar a verdadeira saúde.

É fundamental entender que nenhum corpo é assunto público. Magreza não é elogio ou ofensa, assim como o contrário também é verdadeiro. Trata-se apenas de características individuais. Isso sem contar que o processo da alimentação também é completamente particular a cada indivíduo. Nem corpos nem padrões de alimentação devem ser comentados ou comparados.

Texto escrito pela nutricionista Marcela Kotait.