Brasileiros ainda têm vergonha de assumir depressão, aponta IBOPE

Pesquisa nacional aponta que tabus sobre a doença persistem sobretudo entre os mais novos e os homens

É provável que – se você nunca teve – conhece alguém que sofre ou já sofreu com depressão. A doença é considerada o “mal do século” e atinge hoje mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. E apesar de cada vez mais personalidades e famosos falarem abertamente sobre o diagnóstico, há ainda muita desinformação e vergonha entre os jovens brasileiros. É o que revelou um levantamento do IBOPE Conecta divulgada nesta quarta-feira, 28.

Os dados da pesquisa “Depressão, suicídio e tabu no Brasil: um novo olhar sobre a Saúde Mental” revelou que 23% dos adolescentes entre 13 e 17 anos enxergam o transtorno mental como um “momento de tristeza” e não uma doença grave.

Desinformação sobre depressão é maior entre os mais jovens
Créditos: bunditinay/istock
Desinformação sobre depressão é maior entre os mais jovens

Apesar de entenderem que a depressão tem tratamento (71%), a faixa etária dos 18 aos 24 anos é a que expressa a menor confiança. Quase um terço desses jovens (29%) não está totalmente convencido de que a depressão é uma doença como qualquer outra, que pode ser tratada com sucesso. Já entre os entrevistados mais velhos, com 55 anos ou mais, esse porcentual cai para 18%. O dado de São Paulo também chama a atenção: 26% dos internautas paulistanos têm dúvidas ou desacreditam na chance de tratar a doença com sucesso.

“Verificar o quanto existe de desconhecimento e vergonha sobre a depressão entre os jovens brasileiros é muito preocupante porque a doença representa um dos diagnósticos mais frequentes entre as pessoas que tiram a própria vida. E temos visto, nos últimos anos, o quanto as taxas de suicídio estão aumentando justamente na população mais jovem”, afirma a diretora médica da Pfizer Brasil, Márjori Dulcine.

Vergonha e silêncio

Entrevistados confessam que sentiram desconforto para abrir a doença para a família 
Créditos: seb_ra/istock
Entrevistados confessam que sentiram desconforto para abrir a doença para a família 

A desinformação sobre a depressão alimenta o estigma e a vergonha que o paciente sente. Não por acaso, os jovens demonstram constrangimento para falar do assunto na escola ou trabalho e, até mesmo, com pessoas do convívio próximo: 39% dos adolescentes de 13 a 17 anos dizem que não se sentiriam à vontade para dividir o problema com a família caso recebessem um diagnóstico de depressão, um porcentual bastante acima da taxa média verificada na amostra total de entrevistados, que foi de 22%.

Tabus entre os homens

Os tabus ligados à doença estão ainda mais fortes entre eles. Quando perguntados sobre a relação da depressão com a falta de fé, por exemplo, 30% dos homens ou indicam que essa associação é verdadeira ou afirmam que não sabem avaliar sua veracidade.

Entre as mulheres, por outro lado, esse porcentual cai para 17%. Esse mito, em particular, também se destaca entre os entrevistados mais velhos, assim como é mais evidente entre os participantes de Fortaleza.

Além disso, para quase um terço desses entrevistados não está claro que a depressão não é mero sinal de fraqueza ou pouca força de vontade: 29% deles ou acreditam nesse mito ou, pelo menos, estão em dúvida sobre essa afirmação.

Assim como as mulheres, os homens também acreditam que é possível superar a depressão. Mas o suporte médico é menos valorizado por eles: quando perguntados sobre as formas mais importantes de vencer a doença, o acompanhamento médico aparece em terceiro lugar, ao passo que essa estratégia surge na segunda posição para o público feminino. Para ambos, o acompanhamento psicológico é o fator mais citado e, entre os homens, a prática regular de exercícios físicos se destaca também, em segundo lugar.

Questionados especificamente sobre o tratamento medicamentoso, os homens também se mostram mais resistentes do que as entrevistadas. Pelo menos um a cada cinco (21% da amostra) diz que não tomaria antidepressivos mesmo que o médico prescrevesse, um porcentual que cai para 16% entre as mulheres.  “Esse é um sinal de alerta muito importante se considerarmos que os homens compreendem a maior parte dos casos de suicídio e a maioria dessas vítimas sofria de transtornos mentais, como a depressão”, reforça Márjori.

O estudo foi feito com 2 mil brasileiros, a partir dos 13 anos de idade, em diferentes regiões metropolitanas do País: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Fortaleza. Em São Paulo, a amostra de entrevistados foi colhida na capital.

Depressão

A depressão é uma doença psiquiátrica de caráter crônico e com crises recorrentes. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), ela é a principal causa de incapacidade em todo o mundo e contribui de forma importante para a carga global de doenças. Existem vários tratamentos medicamentosos e psicológicos eficazes para a doença.

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