O que comer para prevenir o câncer de intestino? Nutricionista lista os melhores alimentos

Busca por praticidade tem aumentado a dependência de produtos industrializados, elevando o risco do tumor; que tal rever sua alimentação neste Março Azul?

Por Caroline Vale em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
18/03/2025 18:31

O câncer de intestino, também conhecido como câncer colorretal, é um dos tumores mais comuns no Brasil e no mundo.

Para combater essa doença, o Março Azul, campanha organizada este ano pela Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed) e pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), surge como uma importante forma de conscientização, com foco na prevenção e no diagnóstico precoce do câncer de intestino.

O objetivo é alertar a população sobre a importância de manter uma alimentação equilibrada, adotar hábitos saudáveis e realizar exames preventivos regularmente. 

A doença está diretamente relacionada a fatores como genética, tabagismo, obesidade, consumo excessivo de álcool, doenças inflamatórias intestinais crônicas e, é claro, alimentação.

Por isso, o consumo adequado de certos alimentos pode reduzir o risco de desenvolver esse tipo de câncer.

Como a alimentação é importante para a prevenção de câncer de intestino.
Como a alimentação é importante para a prevenção de câncer de intestino. - iStock/peterschreiber.media

Alimentação moderna X Câncer de intestino

A alimentação tem influência no aumento dos casos de câncer de intestino, especialmente devido ao consumo excessivo de carnes processadas, fast food e produtos industrializados.

O Instituto Nacional de Câncer (Inca) alerta que uma alimentação inadequada, combinada com excesso de peso, sedentarismo e outros fatores, são determinantes para o desenvolvimento do tumor colorretal.

O consumo frequente de carnes processadas, como salsicha, presunto e bacon, está associado a maior risco de câncer intestinal devido à presença de conservantes como nitritos e nitratos, que podem formar substâncias potencialmente cancerígenas no organismo.

Além disso, alimentos ultraprocessados costumam ter altas quantidades de açúcares, gorduras e aditivos artificiais, que favorecem inflamações crônicas e o desenvolvimento de obesidade, um dos principais fatores de risco para a doença.

A falta de fibras na alimentação também agrava o problema, pois elas ajudam a regular o funcionamento do intestino e reduzem o contato prolongado de substâncias nocivas com a mucosa intestinal. Ainda de acordo com o Inca, a ingestão diária recomendada de fibras para um adulto saudável é de 25 a 30 gramas.

No entanto, grande parte da população tem ingerido quantidades muito abaixo do necessário, o que compromete a proteção natural do organismo contra o câncer.

Um estudo recente da Cleveland Clinic, inclusive, aponta que o aumento da ingestão de carne vermelha e de bebidas açucaradas está associado ao crescimento da incidência de câncer de intestino em adultos jovens.

A pesquisa revelou que pacientes diagnosticados antes dos 50 anos apresentavam diferenças metabólicas em relação aos mais velhos, sugerindo que a alimentação moderna pode estar contribuindo para casos precoces da doença.

Os resultados sugerem que o excesso de energia de bebidas adoçadas com açúcar e consumo de carne vermelha podem ser fatores de risco para câncer colorretal de início jovem.

As diferenças metabólicas nas vias alteradas por exposições ambientais, como o consumo excessivo de carne vermelha, podem sugerir relações com a idade mais jovem de início. Os próximos passos incluiriam estudos futuros para entender a causa e o desenvolvimento da doença e criar biomarcadores para melhores terapias no câncer colorretal em jovens”, pontuou Suneel Kamath, oncologista gastrointestinal da Cleveland Clinic e autor sênior do estudo.

Isso mostra uma crescente preocupação com a alimentação, em que a qualidade da dieta tem se deteriorado ao longo dos anos.

Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE, alimentos como feijão, arroz e farinha de mandioca estão sendo consumidos cada vez menos, enquanto a ingestão de alimentos ultraprocessados e bebidas alcoólicas aumentou substancialmente. 

Aumento nos casos de câncer de intestino pode estar relacionado ao estilo de vida atual, marcado pelo sedentarismo e pela alimentação baseada em produtos industrializados.
Aumento nos casos de câncer de intestino pode estar relacionado ao estilo de vida atual, marcado pelo sedentarismo e pela alimentação baseada em produtos industrializados. - iStock/Chinnachart Martmoh

Quais alimentos ajudam na prevenção do câncer de intestino?

Em entrevista à Catraca Livre, a nutricionista clínica pela Universidade de São Paulo (USP), Amanda Figueiredo, listou os alimentos que ajudam a prevenir o câncer de intestino. Ela também é pós-graduada em Saúde da Mulher e Reprodução Humana pela PUC.

“A alimentação tem um papel crucial na prevenção do câncer colorretal. Alguns alimentos e nutrientes têm propriedades protetoras, enquanto outros devem ser evitados, pois podem aumentar o risco de desenvolvimento da doença”, afirmou a especialista.

Alimentos ricos em fibras.
Alimentos ricos em fibras. - iStock/knape

Segundo a nutricionista, os seguintes alimentos devem ser incluídos na dieta diária:

  • Fibras: essenciais para o bom funcionamento intestinal, as fibras ajudam a reduzir o risco de câncer colorretal. São encontradas em verduras, frutas, grãos integrais e leguminosas como feijão, lentilha e grão-de-bico.
  • Frutas e vegetais coloridos: ricos em vitaminas, minerais e antioxidantes, esses alimentos protegem o corpo contra o dano celular e a inflamação.
  • Peixes gordurosos: como salmão, atum, cavala e sardinha, são ricos em ômega-3, um nutriente que ajuda a reduzir a inflamação no corpo e pode diminuir o risco de câncer.
  • Grãos integrais: alimentos como arroz integral, pão integral e aveia fornecem fibras e antioxidantes importantes para a saúde intestinal.
  • Castanhas e sementes: são ricas em nutrientes e antioxidantes que ajudam a proteger o organismo.
  • Lácteos magros: leite, iogurte e queijo magro fornecem cálcio e outros nutrientes que auxiliam na proteção do trato digestivo.

Alerta da nutricionista

Por outro lado, o consumo de outros alimentos deve ser limitado ou evitado, ainda conforme recomendação da Amanda Figueiredo. São eles:

  • Carnes vermelhas e processadas: como linguiça, salsicha, bacon, presunto e salame, que estão associados ao aumento do risco de câncer colorretal devido à presença de compostos carcinogênicos.
  • Bebidas alcoólicas: o consumo em excesso também é um dos fatores de risco para o desenvolvimento da doença.
  • Gorduras saturadas e trans: essas gorduras contribuem para o desequilíbrio da microbiota intestinal, favorecendo o desenvolvimento de inflamações e, consequentemente, de câncer.
  • Alimentos ultraprocessados: refrigerantes, bolos industrializados, doces, e fast food devem ser evitados, pois são ricos em açúcares, gorduras saturadas e aditivos que favorecem inflamações intestinais.

“A relação entre alimentos industrializados e câncer colorretal está diretamente ligada à alteração da microbiota intestinal. O consumo de ultraprocessados pode desregular as bactérias benéficas do intestino, levando a um desequilíbrio que favorece inflamações crônicas. Essas inflamações criam um ambiente propício para a carcinogênese, ou seja, a transformação de células saudáveis em células cancerígenas”, explica a nutricionista.

O check-up regular é essencial para a prevenção do câncer de intestino, permitindo a detecção precoce.
O check-up regular é essencial para a prevenção do câncer de intestino, permitindo a detecção precoce. - iStock/peakSTOCK

Importância do rastreamento

Além da alimentação, a prevenção do câncer colorretal também passa por hábitos saudáveis, como a prática regular de atividade física, o controle do peso corporal e a não exposição ao tabaco.

O rastreamento precoce é essencial para detectar lesões antes que evoluam para um tumor maligno. A colonoscopia, por exemplo, é um exame eficaz para identificar e remover pólipos intestinais que poderiam se tornar cancerosos (saiba mais clicando aqui).