Câncer de pulmão em não fumantes: entenda o que aumenta a vulnerabilidade das mulheres

O aumento dos casos de câncer de pulmão entre não fumantes, especialmente em mulheres, exige mais pesquisas para entender melhor os fatores envolvidos

Por Silvia Melo em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
15/02/2025 13:04

O câncer de pulmão sempre esteve associado ao tabagismo, mas um novo estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou um aumento alarmante da doença em pessoas que nunca fumaram — especialmente entre as mulheres. De acordo com a pesquisa, publicada na revista The Lancet Respiratory Medicine, o adenocarcinoma pulmonar, tipo mais comum entre não fumantes, representa cerca de 60% dos casos em mulheres, enquanto em homens esse número é de 45%.

A descoberta levanta questões importantes sobre os fatores ambientais, genéticos e imunológicos que podem estar impulsionando esse crescimento. Veja quais são os principais riscos e por que as mulheres são mais afetadas.

1. Fatores genéticos e mutações ligadas ao câncer de pulmão

As mutações genéticas são um dos principais fatores de risco para o câncer de pulmão em não fumantes. Entre as mais comuns, destaca-se a mutação no gene EGFR, que afeta a divisão celular e o crescimento do tumor.

  • 50% das mulheres asiáticas não fumantes com adenocarcinoma apresentam essa mutação.
  • 19% das mulheres ocidentais não fumantes também são afetadas.
  • Em homens não fumantes, a prevalência varia entre 10% e 20%.
Estudo revelou um aumento alarmante da doença em pessoas que nunca fumaram — especialmente entre as mulheres. (Foto usada apenas para fins ilustrativos. Feita por profissional)
Estudo revelou um aumento alarmante da doença em pessoas que nunca fumaram — especialmente entre as mulheres. (Foto usada apenas para fins ilustrativos. Feita por profissional) - Suzi Media Production/istock

Além do EGFR, outras mutações genéticas como ALK e ROS1 também são encontradas, principalmente em mulheres jovens não fumantes, com maior incidência na Ásia. O gene TP53, que normalmente impede o crescimento descontrolado de células cancerígenas, também apresenta mutações mais frequentes em mulheres.

Outra mutação relevante ocorre no gene KRAS, historicamente ligado ao câncer de pulmão em fumantes, mas que tem sido cada vez mais encontrado em não fumantes, principalmente em mulheres.

2. O impacto da poluição no aumento dos casos de câncer de pulmão

A poluição do ar é um dos maiores fatores ambientais relacionados ao câncer de pulmão em não fumantes. O aumento dos níveis de PM2,5 (partículas finas suspensas no ar) está associado a uma maior incidência da doença.

As mulheres podem ser mais vulneráveis à poluição devido à anatomia pulmonar, que favorece a retenção dessas partículas nos pulmões.

O estrogênio pode amplificar respostas inflamatórias quando exposto a poluentes, aumentando o risco de danos pulmonares.

Locais como fábricas têxteis, salões de beleza e hospitais expõem as mulheres a produtos químicos que podem ser prejudiciais à saúde pulmonar.

Além disso, a poluição doméstica também é um fator de risco significativo, com o uso de madeira, carvão e querosene em cozinhas e aquecedores contribuindo para o desenvolvimento da doença.

3. O papel dos hormônios no desenvolvimento do câncer de pulmão

Os hormônios femininos também podem estar envolvidos no risco aumentado de câncer de pulmão em mulheres não fumantes.

Os receptores de estrogênio estão presentes no tecido pulmonar, e pesquisas indicam que o hormônio pode estimular o crescimento de tumores.

Curiosamente, mulheres que fazem terapia de reposição hormonal (TRH) apresentam um risco menor de câncer de pulmão, sugerindo que os ciclos naturais de estrogênio ao longo da vida podem influenciar o desenvolvimento da doença.

4. Inflamação crônica e doenças autoimunes

A inflamação crônica é outro fator que pode estar contribuindo para o aumento dos casos de câncer de pulmão entre mulheres não fumantes.

Mulheres têm maior predisposição a doenças autoimunes, como artrite reumatoide e lúpus, que podem desencadear inflamações prolongadas nos pulmões.

Além disso, mudanças ambientais, dieta e microbiota intestinal também desempenham um papel importante na inflamação e na resposta imunológica.

5. O papel do HPV no câncer de pulmão

Pesquisas recentes indicam que o vírus do papiloma humano (HPV) pode ser um fator de risco adicional para o câncer de pulmão em mulheres. Isso reforça a necessidade de mais estudos para entender sua relação com a doença e desenvolver estratégias preventivas.

Embora alguns fatores de risco, como predisposição genética e alterações hormonais, não possam ser evitados, há medidas que podem ajudar a reduzir a exposição a fatores ambientais que contribuem para o câncer de pulmão em não fumantes:

  • Evitar a exposição à poluição do ar, principalmente em áreas urbanas com altos índices de PM2,5.
  • Manter a casa bem ventilada para reduzir a poluição doméstica de fogões a lenha ou carvão.
  • Utilizar equipamentos de proteção em ambientes de trabalho com exposição a produtos químicos.
  • Fazer exames médicos regulares para rastrear mutações genéticas, especialmente para mulheres com histórico familiar de câncer de pulmão.
  • Adotar um estilo de vida anti-inflamatório, incluindo uma alimentação equilibrada e a prática regular de atividades físicas.