Caso raro de Alzheimer em jovem de 19 anos muda compreensão sobre a doença

Chinês não tem histórico familiar de demência, nem traumas ou outras condições médicas que justifiquem o declínio cognitivo

Por Silvia Melo em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
24/06/2025 20:03

Em 2023, um caso ganhou atenção internacional depois que neurologistas da Universidade Médica da Capital de Pequim diagnosticaram um jovem de 19 anos com doença de Alzheimer. Ele é o paciente mais jovem já registrado com esse tipo de demência.

Os primeiros sintomas surgiram por volta dos 17 anos, com dificuldades de memória e concentração nas aulas, perda de objetos pessoais e dificuldade para ler e assimilar conteúdos. Com o tempo, o quadro se agravou a ponto de impedir o jovem de concluir o ensino médio, embora ele ainda fosse capaz de viver de forma independente.

Exames confirmaram a doença, mas sem causa genética conhecida

Exames de imagem revelaram atrofia do hipocampo, área crucial para a formação de memórias, e o líquido cefalorraquidiano apresentou biomarcadores compatíveis com Alzheimer. No entanto, o mais intrigante foi que nenhuma mutação genética patológica – como a PSEN1, comum em casos de Alzheimer familiar (DAF) – foi encontrada.

Antes deste diagnóstico, o paciente mais jovem com Alzheimer conhecido era um homem de 21 anos, que tinha uma mutação hereditária. Já no caso chinês, não havia histórico familiar de demência, tampouco evidências de infecções, traumas ou outras condições médicas que justificassem o declínio cognitivo.

Chinês diagnosticado com Alzheimer aos 19 anos é o caso mais precoce da doença já registrado
Chinês diagnosticado com Alzheimer aos 19 anos é o caso mais precoce da doença já registrado - mr.suphachai praserdumrongchai/istock

Memória comprometida e mudanças cognitivas precoces

Em testes comparativos com pessoas da mesma idade, a pontuação total de memória do paciente foi 82% menor, e a memória imediata, 87% inferior.

Um ano após ser encaminhado à clínica de memória, o jovem já apresentava perdas significativas de memória de curto, médio e longo prazo, o que reforçou o diagnóstico clínico.

O que esse caso muda na compreensão do Alzheimer?

Os pesquisadores responsáveis pelo estudo, publicado no Journal of Alzheimer’s Disease, afirmaram que este caso “altera nossa compreensão da idade típica de início do Alzheimer”, além de reforçar que a patologia pode surgir de formas ainda desconhecidas. Segundo o neurologista Jianping Jia, é possível que haja novas vias patológicas envolvidas no desenvolvimento da doença em jovens.

Estudos como esse levantam questões importantes: será que há causas ambientais, metabólicas ou epigenéticas ainda não identificadas? Quais mecanismos podem levar ao surgimento tão precoce da doença?

Apesar de extremamente raro, o caso destaca a necessidade urgente de aprofundar as investigações sobre Alzheimer de início precoce, especialmente entre pacientes sem predisposição genética aparente. A equipe médica chinesa afirma que entender esses casos pode ser uma das questões científicas mais desafiadoras das próximas décadas, com potencial de abrir novas frentes de diagnóstico, prevenção e tratamento.