Cientista diz que Brasil pode ultrapassar 3 mil mortes diárias
"Podemos ter a maior catástrofe humanitária do século XXI em nossas mãos”, diz Miguel Nicolelis
Nas próximas semanas, o Brasil pode ultrapassar as 3 mil mortes diárias por covid-19. O alerta é do médico e neurocientista Miguel Nicolelis, que defende um lockdown nacional de 21 dias para frear a disseminação do vírus e evitar um colapso total do sistema de saúde.
Nicolelis coordenou ao longo da pandemia o Comitê Científico do Consórcio Nordeste para a covid-19, responsável por traçar previsões e orientar governadores da região. Segundo ele, o país está prestes a entrar em uma guerra explícita. “Nós podemos ter a maior catástrofe humanitária do século XXI em nossas mãos”, afirmou o médico ao jornal El País.
A previsão de 3 mil mortes não está tão distante. Na última quarta-feira, 3, o Brasil alcançou um recorde de mortes pela covid-19. Foram 1.840 novos óbitos em 24 horas.
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“Se você tiver 2.000 óbitos por dia em 90 dias, ou 3.000 óbitos por 90 dias, estamos falando de 180.000 a 270.000 pessoas mortas em três meses. Nós dobraríamos o número de óbitos. Isso já é um genocídio, só que ninguém ainda usou a palavra”, disse.
O neurocientista comentou a situação do estado de São Paulo, que entrará no próximo sábado, 6, em fase vermelha, em que só os serviços essenciais podem funcionar.
“Acho que São Paulo vai colapsar. Campinas já colapsou. Rio Preto colapsou. Ribeirão Preto está no mesmo caminho. A cidade de São Paulo não vai aguentar. O Hospital Emilio Ribas já está 100% e com fila de espera. O Hospital das Clínicas, que tem um dos maiores números de leitos de UTI do Brasil, está com 80% de ocupação e vai colapsar”, pontuou.
Variantes
Segundo Nicolelis, a situação do Brasil está ainda mais complicada por conta das variantes, que são mais perigosas. “Se você tem dezenas de variantes superpostas umas nas outras… Acabaram de detectar a variante da Califórnia em Minas Gerais, porque alguém veio de avião dos Estados Unidos e trouxe ela. Nós recomendamos fechar os aeroportos em agosto. Repetimos em setembro. E evidentemente a Infraero não deu bola. Temos no Brasil a reunião de todas as variantes, inclusive as nossas próprias. Essa é a bomba relógio”, alertou.
Para ele, a saída é decretar um lockdown de 21 dias em todo o país. “É preciso decretar lockdown de pelo menos 21 dias e pagar um auxílio financeiro para que as pessoas fiquem em casa. Os governadores sabem que o Governo Federal não vai fazer nada, estão querendo empurrar a responsabilidade. Estou sugerindo desde de novembro de criar uma Comissão Nacional com a sociedade civil, governadores e Supremo, que precisa decretar uma tutela judicial no Ministério da Saúde. Uma intervenção. E essa Comissão Nacional ficaria responsável por tomar decisões e supervisionar toda a logística”.