Cientistas criam tratamento que pode preservar a memória no Alzheimer
Pesquisa americana aponta que nova abordagem genética pode preservar funções cognitivas ao modificar o comportamento das células cerebrais

Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA), estão desenvolvendo uma nova terapia genética para Alzheimer que promete não apenas aliviar sintomas, mas também proteger o cérebro e preservar a memória. Em vez de combater o acúmulo de proteínas, como fazem os tratamentos atuais, a inovação busca alterar o comportamento das células cerebrais, reprogramando-as para um estado mais saudável.
Por que essa abordagem é diferente?
A maioria das terapias atuais foca em limpar o cérebro de placas de proteínas tóxicas, como a beta-amiloide. No entanto, essa nova estratégia genética vai além: atua diretamente na expressão gênica das células nervosas, buscando impedir ou até reverter o processo degenerativo.
Os resultados, ainda que preliminares, indicam um avanço significativo: ao intervir no estágio sintomático da doença, os pesquisadores conseguiram preservar a memória ligada ao hipocampo — área do cérebro crucial para a formação de novas lembranças e que costuma ser a primeira a ser afetada no Alzheimer.

Testes com camundongos mostram preservação da memória
Nos experimentos com camundongos com sintomas da doença, os animais que receberam a terapia genética apresentaram melhora cognitiva e padrão de expressão gênica semelhante ao de camundongos saudáveis. Isso sugere que o tratamento tem potencial para restaurar parcialmente as funções perdidas e proteger as células cerebrais do avanço da doença.
Os cientistas observaram que, além de manterem melhor desempenho em testes de memória, os camundongos tratados tiveram um perfil celular menos inflamatório e mais equilibrado.
Um futuro promissor, mas ainda em fase inicial
Apesar dos resultados animadores, os especialistas alertam que ainda é cedo para aplicar a técnica em humanos. Mais estudos serão necessários antes do início dos ensaios clínicos, principalmente para garantir segurança, eficácia e viabilidade da terapia em larga escala.
A pesquisa foi publicada na revista científica Signal Transduction and Targeted Therapy.
A tecnologia por trás da terapia genética foi licenciada pela universidade para a empresa Eikonoklastes Therapeutics em 2021. A empresa, inclusive, já obteve da FDA a Designação de Medicamento Órfão para uso dessa mesma plataforma no tratamento da esclerose lateral amiotrófica (ELA), o que demonstra confiança regulatória na abordagem.
Se os próximos passos forem bem-sucedidos, essa terapia genética pode abrir caminho para um novo paradigma no tratamento do Alzheimer, abordando não apenas os sintomas, mas as raízes biológicas do declínio cognitivo.