Cientistas decifram o caminho para o alívio da depressão em horas

Pesquisa recente revela que doses baixas de uma medicação já existente pode tratar reduzir a depressão em horas, com efeitos que duram dias

19/11/2024 07:22

Um estudo recente de neurocientistas da Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, fez descobertas importantes sobre como uma medicação usada como anestésico pode ser eficaz no combate à depressão severa.

De acordo com os pesquisadores, a cetamina, em doses baixas, age no cérebro, trazendo o alívio dos sintomas depressivos.

Mas, ao contrário dos antidepressivos tradicionais, que podem levar semanas para fazer efeito, a cetamina pode melhorar o humor e aliviar sintomas depressivos em poucas horas após a administração.

O estudo, publicado recentemente no periódico Molecular Psychiatry, abre caminho para o desenvolvimento de novos antidepressivos potencialmente não viciantes.

Cetamina em doses baixas pode aliviar a depressão em horas, segundo estudo
Cetamina em doses baixas pode aliviar a depressão em horas, segundo estudo - Eoneren/istock

Poderoso anestésico

A cetamina é usada desde a década de 1960 como anestésico, mas em 2000, o primeiro teste com doses muito menores de cetamina provou sua rápida eficácia no tratamento de depressão grave e ideação suicida.

Como os antidepressivos tradicionais levam meses para fazer efeito, isso aumenta o risco de alguns pacientes agirem com base em pensamentos suicidas durante o período inicial de tratamento.

A cetamina fornece alívio quase instantâneo dos sintomas depressivos e permanece eficaz por vários dias e até uma semana após a administração. 

Como age a cetamina na depressão?

Estudos apontam que a substância age principalmente através do bloqueio dos receptores NMDA.

Esses receptores produzem sinais elétricos essenciais para a cognição, aprendizado e memória. E, quando desregulados, resultam em sintomas psiquiátricos.

O mecanismo de ação descoberto na pesquisa sugere que, em doses baixas, a cetamina afeta apenas a corrente transportada pelos receptores que estavam ativos em segundo plano por um tempo, mas não pelos receptores sinápticos, que experimentam apenas ativações breves e intermitentes.

De acordo com os pesquisadores, isso resulta em um aumento imediato na transmissão excitatória, que por sua vez alivia os sintomas depressivos.

Além disso, o aumento na excitação inicia a formação de sinapses novas ou mais fortes, que servem para manter níveis excitatórios mais altos mesmo depois que a cetamina é eliminada do corpo, respondendo assim pelo alívio a longo prazo observado em pacientes.

Agora, os pesquisadores pensam rastrear medicamentos existentes que possam agir da mesma forma nos receptores NMDA para abrir o caminho para tratamento mais eficaz contra a depressão.