Cientistas descobrem por que os notívagos sofrem mais com a depressão

Em estudo com mais de 500 universitários, as pessoas noturnas apresentaram pontuações de depressão significativamente maiores

Por Silvia Melo em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
24/03/2025 05:33

Uma nova pesquisa sugere que ser uma pessoa noturna pode estar diretamente ligado ao risco de depressão. O estudo, conduzido pela Universidade de Surrey e publicado na revista PLOS ONE, revelou que indivíduos que preferem ficar acordados até mais tarde tendem a apresentar menor qualidade do sono e dificuldades em certas habilidades de atenção plena, o que pode contribuir para um maior risco de sintomas depressivos.

A relação entre cronótipo e depressão

O cronótipo é a predisposição natural de cada pessoa para funcionar melhor em determinados períodos do dia. Enquanto algumas são naturalmente mais produtivas pela manhã, outras atingem seu melhor desempenho à noite. Essa característica tem bases genéticas, mas também pode ser influenciada por fatores ambientais e muda ao longo da vida.

O estudo analisou 546 universitários com idade média de 19,8 anos e identificou que quase metade deles tinha preferência por atividades noturnas. Esse grupo apresentou maior tendência a desenvolver depressão, especialmente devido à baixa qualidade do sono e à dificuldade em estar presente no momento e descrever suas emoções de maneira eficaz.

Atenção plena: o elo perdido entre sono e saúde mental

Os pesquisadores descobriram quatro fatores principais que ligam o hábito de dormir tarde à depressão: qualidade do sono, habilidade de estar focado no presente, capacidade de “descrever” emoções e consumo de álcool.

Pessoas notívagas têm mais tendência a ter depressão, segundo estudo
Pessoas notívagas têm mais tendência a ter depressão, segundo estudo - Filmstax/istock

Qualidade do sono foi o fator mais determinante

O “jet lag social” – quando o relógio biológico de uma pessoa não se alinha com a rotina social – pode resultar em um sono fragmentado e não restaurador.

Atenção plena e regulação emocional

Pessoas noturnas apresentaram dificuldades para manter o foco no presente e para descrever seus sentimentos, o que pode aumentar a ruminação mental e a vulnerabilidade à depressão.

Consumo de álcool

Curiosamente, na amostra analisada, o consumo moderado de álcool esteve associado a menos sintomas depressivos. Isso pode estar relacionado ao papel social da bebida em ambientes universitários, embora o efeito a longo prazo precise de mais estudos.

Como pessoas noturnas podem proteger sua saúde mental

Embora os notívagos possam sempre preferir horários mais tardios, adotar algumas estratégias pode ajudar a reduzir o risco de depressão:

  • Melhorar a qualidade do sono: criar uma rotina de sono consistente, evitar telas antes de dormir e manter um ambiente adequado para o descanso.
  • Praticar atenção plena: exercícios que desenvolvem a presença no momento e a regulação emocional podem ser particularmente benéficos.
  • Adaptar rotinas às necessidades individuais: sempre que possível, priorizar horários de trabalho e estudo que respeitem o cronótipo pessoal.