Cirurgia de endometriose suspende uso de medicamentos
Cirurgia minimamente invasiva ainda é pouco realizada pelo SUS e, em um hospital particular, pode custar até R$20 mil
Responsável por 50% dos casos de infertilidade feminina, a endometriose acomete entre 9 a 13% das mulheres no mundo todo. Só no Brasil, a estimativa é que 6,5 milhões de mulheres são afetadas pela doença. Causada pelo crescimento anormal do endométrio (tecido que reveste o útero) fora do órgão, a condição já tem cura: uma cirurgia chamada laparoscopia avançada.
O procedimento minimamente invasivo é feito a partir de uma pequena abertura na região do abdômen e, com a ajuda de um laparoscópico, avalia a cavidade pélvica e abdominal. Uma vez encontradas lesões suspeitas, o médico remove todos os focos, drena os cistos endometriais e depois retira a capa que os reveste.
“Quando retirada de forma completa, a endometriose não volta e não há mais necessidade de tomar qualquer medicamento”, afirma o ginecologista Waldir Inácio Jr.
A paciente que passa por uma laparoscopia geralmente recebe alta em menos de 24 horas e já pode voltar às suas atividades em poucos dias.
A técnica foi desenvolvida pelo cirurgião americano David Redwine, e hoje poucos médicos a ministram no Brasil. O conceito de se retirar a endometriose de todos os órgãos onde está instalada e não só nos focos ainda é novo, mas – segundo Inácio Jr. – os resultados comprovam sua efetividade. Mas tão importante quanto retirar todas as lesões, é não danificar nenhum outro órgão ou estrutura nesse processo. Por isso, esse tipo de cirurgia é tão desafiador para os ginecologistas.
Apesar de aprovada para ser feita pelo SUS (Sistema Único de Saúde), são poucos os hospitais que realizam o procedimento. O alto custo e a falta de material são alguns dos motivos. No hospital particular, o valor do procedimento pode variar entre R$ 6 mil a R$ 20 mil.
Endometriose
A endometriose é uma doença que provoca cólicas fortes, muitas vezes incapacitantes, dores durante a relação sexual, desconforto ao evacuar e urinar e até mesmo dores na região lombar e nas coxas. Em alguns casos, a falta de tratamento pode levar a problemas mais graves, como obstrução intestinal, se houver comprometimento extenso do intestino, e a perda das funções renais, caso a bexiga e os ureteres sejam prejudicados.
O diagnóstico exige ressonância magnética ou ultrassom transvaginal com lavagem intestinal.
De acordo com o ginecologista Inácio Jr., hoje já se sabe, por exemplo, que o problema não é decorrente do fluxo menstrual, como se achava antigamente. “A mulher nasce com endometriose. Por isso, irmãs têm mais chance de ter. E já se estudaram natimortos do sexo feminino que tinham endometriose”, afirma ele.
Entender mais sobre o problema é importante para que o tratamento se torne mais efetivo. “Nos últimos anos, houve uma mudança de paradigma em relação à terapia com hormônios. Além de não tratar efetivamente a doença, traz efeitos colaterais, como aumento de peso, diminuição da libido e alteração do humor”, explica Inácio.