Como a cafeína do seu café pode interferir no seu risco de diabetes

Estudo usou marcadores genéticos para estabelecer uma ligação mais definitiva entre os níveis de cafeína, o IMC e o risco de diabetes tipo 2

07/02/2025 12:15

Pesquisas recentes sugerem que os níveis de cafeína no sangue podem ter um impacto significativo na quantidade de gordura corporal que você carrega, fator fundamental para o desenvolvimento de diabetes tipo 2 e outras doenças metabólicas. Um estudo, publicado em março de 2023 no BMJ Medicine, utilizou marcadores genéticos para estabelecer uma ligação mais definitiva entre os níveis de cafeína, o índice de massa corporal (IMC) e o risco de diabetes tipo 2.

Principais descobertas do estudo

A equipe de pesquisa, composta por especialistas do Instituto Karolinska (Suécia), da Universidade de Bristol e do Imperial College London (Reino Unido), investigou dados de pouco menos de 10.000 indivíduos extraídos de bancos de dados genéticos existentes. Os pesquisadores focaram em variações de genes específicos – principalmente CYP1A2 e o gene regulador AHR – que influenciam a velocidade com que o organismo metaboliza a cafeína.

Os resultados indicaram que concentrações plasmáticas mais altas de cafeína, quando previstas geneticamente, estavam associadas a:

  • Menor IMC: indivíduos com níveis mais elevados de cafeína apresentaram um índice de massa corporal inferior.
  • Redução na massa de gordura corporal: uma correlação significativa foi encontrada entre níveis mais altos de cafeína e menor acúmulo de gordura.
  • Menor risco de diabetes tipo 2: aproximadamente metade do efeito da cafeína na redução do risco de diabetes foi estimado como mediado pela diminuição do IMC.
Pesquisas apontam que cafeína pode ajudar a afastar o risco de diabetes tipo 2
Pesquisas apontam que cafeína pode ajudar a afastar o risco de diabetes tipo 2 - iSTock/Farknot_Architect

Esses achados sugerem que bebidas sem calorias contendo cafeína podem ser exploradas como um meio potencial de reduzir a gordura corporal, o que, por sua vez, diminui o risco de desenvolver diabetes tipo 2.

Mecanismos possíveis: termogênese e oxidação de gorduras

Os pesquisadores acreditam que os efeitos benéficos da cafeína podem estar relacionados à sua capacidade de aumentar a termogênese – a produção de calor pelo corpo – e estimular a oxidação de gorduras. Esse processo ajuda na transformação da gordura em energia, contribuindo para um metabolismo mais eficiente e para a redução da gordura corporal.

Além disso, a análise genética utilizada no estudo, conhecida como randomização mendeliana, permitiu identificar relações causais entre as variações genéticas que afetam o metabolismo da cafeína e fatores de risco como o IMC e a propensão ao diabetes tipo 2.

Vale destacar que, embora indivíduos com variantes que retardam a depleção da cafeína tendam a manter níveis mais elevados no sangue, eles também costumam consumir menores quantidades da bebida. Essa interação complexa reforça a importância de compreender como os genes e o ambiente influenciam o efeito da cafeína no organismo.

Comparações com estudos anteriores

Pesquisas anteriores já haviam associado o consumo moderado de cafeína a melhores indicadores de saúde cardiovascular e a um IMC mais baixo. O novo estudo amplia esse conhecimento ao demonstrar que os pequenos efeitos metabólicos da cafeína podem ter implicações importantes, especialmente considerando a ampla ingestão dessa substância em todo o mundo. Mesmo que os benefícios da cafeína possam parecer modestos, sua influência na redução da gordura corporal pode contribuir significativamente para a prevenção do diabetes tipo 2.

No entanto, os pesquisadores alertam que nem todos os efeitos da cafeína são positivos. Embora os dados apontem para benefícios metabólicos, o consumo excessivo pode estar relacionado a outros riscos à saúde. Por isso, é fundamental avaliar a quantidade ideal de cafeína para maximizar seus benefícios enquanto se minimizam potenciais efeitos adversos.

Relevância para a saúde pública

Considerando que o diabetes tipo 2 é uma das doenças crônicas com maior impacto na saúde global, identificar estratégias para reduzir seu risco é fundamental. Este estudo destaca a possibilidade de que o consumo controlado de cafeína, especialmente em bebidas sem calorias, possa servir como uma ferramenta complementar para a gestão do peso e a prevenção de doenças metabólicas.

Os pesquisadores enfatizam que ensaios clínicos randomizados são necessários para confirmar se essas bebidas podem efetivamente reduzir o risco de obesidade e diabetes tipo 2 a longo prazo.