Consagração do cacau: a bebida dos povos ancestrais que serve para expansão do cardíaco

Ritual ancestral, que promove o consumo da bebida feita com cacau, tem ganhado popularidade devido seu poder de reconexão interior e bem-estar

Por Silvia Melo em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
25/03/2025 20:31

O cacau é muito mais que o ingrediente principal do chocolate. Antes de ser transformado em mercadoria, era visto pelas civilizações antigas como um presente divino. Tanto para os povos originários da Amazônia, quanto para os maias e os astecas, o cacau era um alimento que nutria o corpo e o espírito, símbolo de partilha e conexão com o sagrado. Era uma verdadeira medicina. E, hoje, no resgate dos saberes ancestrais, o ritual do cacau tem sido redescoberto em cerimônias com a intenção de cura.

Do sutil ao físico

Que o cacau faz bem ao coração já é sabido. O alimento é rico em flavonoides, que têm efeito anti-inflamatório e antioxidante, que ajuda a proteger os vasos sanguíneos. Mas com o cacau cerimonial, o efeito vai além do físico: reconexão com a natureza e consigo mesmo, liberação de emoções e expansão do chakra cardíaco. 

“É uma ferramenta de autoconhecimento, que facilita a conexão com as emoções“, descreve Beatrix Cacau, facilitadora de vivências e experiências com o fruto e especialista na História e Cultura do Cacau e Chocolate.

Segundo Beatrix, que produz cacau e chocolate em pequena escala, o fruto é ligado ao divino e à espiritualidade. “O próprio nome científico dele já significa fruto dos deuses. Então, a pessoa pode esperar dessa experiência um conhecimento do real sabor do cacau e do sabor do chocolate, que não é o que a gente vê por aí nos mercados, e uma conexão maior com as suas emoções. Já ouvi pessoas que choraram e que me relataram que não choravam há muito tempo. Então ele é um facilitador de emoções”, explica. 

 

Como acontece a cerimônia do cacau?

A cerimônia de cacau é um ritual que visa facilitar uma experiência de conexão interna. E apesar de trazer bem-estar e ampliar os sentidos, o cacau não altera a consciência, como acontece com outras plantas medicinais utilizadas em rituais, como ayahuasca.

O cacau cerimonial é preparado apenas com água e cacau, mas também pode conter especiarias e algum adoçante natural
O cacau cerimonial é preparado apenas com água e cacau, mas também pode conter especiarias e algum adoçante natural - ninelutsk/istock

Conduzida por um facilitador experiente, a cerimônia sem vínculos religiosos pode incluir meditação guiada, música, dança, canto de mantras e práticas de respiração consciente.

O ritual inicia-se no preparo da bebida, que é feita com cacau puro e orgânico. Algumas vezes, pode ser combinado com ingredientes naturais, como especiarias e adoçantes naturais, como mel ou rapadura. 

A intencionalidade é um elemento essencial desse ritual, onde os participantes são incentivados a refletir sobre questões pessoais, definir intenções e abrir espaço para a autoexploração e a liberação emocional.

A cerimônia de consagração do cacau promove uma conexão espiritual, introspecção e bem-estar emocional
A cerimônia de consagração do cacau promove uma conexão espiritual, introspecção e bem-estar emocional - recep-bg/istock

O que esperar da consagração do cacau?

A cerimônia de cacau pode auxiliar na ampliação da percepção e da consciência, ajudando os participantes a se conectarem com sua essência interior e a desenvolverem maior clareza emocional.

Outro ponto que participantes relatam é a abertura do coração. Isso ocorre por conta da teobromina, substância presente no cacau, que atua como um vasodilatador natural e promove uma sensação de abertura e acolhimento. Isso facilita o processo de liberação emocional, permitindo que emoções reprimidas sejam trabalhadas de forma suave.

Além do mais, como lembra Beatrix, ele contém magnésio, que ajuda a relaxar o corpo, e contém um pouco de cafeína, que estimula. “Então, ele tem uma dualidade que promove um equilíbrio entre ser relaxante e ser estimulante. Por isso, que na dose certa, é uma bebida perfeita”, diz a facilitadora.

A sensação de bem-estar é outro efeito do consumo do cacau. Isso porque ele contém um componente químico que libera serotonina que é o hormônio do bem-estar, e contém uma molécula chamada anandamida, palavra que vem do sânscrito, e significa alegria, contentamento.

Além do nosso próprio corpo, que produz anandamida naturalmente, apenas a cannabis e o cacau são conhecidos por gerar essa substância.

Por fim, os rituais de cacau promovem o sentimento de pertencimento por frequentemente ocorrerem em grupos, criando um espaço de partilha e conexão com outras pessoas.

É possível vivenciar uma cerimônia do cacau em qualquer cidade. Basta buscar eventos conduzidos por facilitadores em grupos de terapias holísticas, yoga ou meditação. 

“O mais importante para um participante viver essa experiência é que ele venha com o coração e a mente abertos a novas sensações, a provar novos sabores. Não dá pra vir esperando o Toddynho ou Nescau da infância. A ideia é justamente trazer novos sabores, novas sensações, novas experiências”, adianta Beatrix. 

Há contraindicações?

O cacau cerimonial é geralmente seguro, mas pode ter contraindicações para algumas pessoas. Aquelas que sofrem com pressão alta ou problemas cardíacos, tratam depressão, estão grávidas ou amamentando devem evitar.

Por ele ser um cacau 100%, pode ser pesado para o fígado. Por isso, é muito importante buscar um profissional que tenha uma trajetória e tenha experiência e saiba a dosagem e contraindicações.