Cultura indígena: como as mulheres da etnia Munduruku dão à luz

Por: Catraca Livre

19 de abril é celebrada uma data muito importante, de resistência, luta e conscientização: o Dia do Índio. Embora eles sejam de absoluta importância na história e formação do nosso país, da nossa história e da nossa cultura, os povos indígenas ainda enfrentam questões muito sérias e precisam de valorização.

Muitas etnias indígenas ainda preservam, mesmo nos dias atuais, rituais referentes à concepção e ao nascimento. É uma cultura muito bonita, que valoriza a simbologia destes momentos tão especiais.

A pesquisadora Raquel Paiva Dias Scopel decidiu conhecer mais a fundo essa experiência e habitou, por um período, a Terra Indígena Kwatá-Laranjal, no Amazonas, convivendo com a etnia Munduruku.

Ela escreveu uma tese, apresentada na Universidade Federal de Santa Catarina para aprovação no doutorado de Antropologia Social e alguns fragmentos foram publicados na Agência EBC, que nos serviu de fonte para esta matéria.

Na cultura desta etnia, o sangue menstrual é um forte atrativo para os “botos”, que são seres místicos que provocam doenças, infortúnios e até a morte. Neste período, elas ficam de resguardo e, ao invés de irem ao rio, tomam banho dentro de casa para se protegerem de uma possível “gravidez” do bicho.

As mulheres preferem parir em casa, mas têm a opção de contar com suporte médico.

Para os Munduruku, o bebê é formado a partir da junção do sêmen do pai ao sangue menstrual da mãe, por isso, evitam ter relações sexuais durante este período – funciona como um método contraceptivo.

Para que o bebê cresça e se desenvolva, eles defendem a participação de Karusakaibu (citado nos mitos como criador dos Munduruku, dos animais de caça e dos artefatos culturais), que é como um deus para eles. Ele é responsável pela formação do corpo humano, com todos os órgãos internos e externos.

Já em relação ao nascimento, a mulher é aconselhada a não contar ao marido sobre o início do trabalho de parto, porque isso pode fazer com que seja mais doloroso e demorado. Assim, elas só avisam quando as contrações estão fortes e avançadas.

As mulheres Munduruku têm a possibilidade de parir no hospital ou nas unidades de saúde. No entanto, o parto para eles é íntimo e familiar, então preferem que seja em casa, e lá podem também contar com o apoio de médicos e técnicos de saúde do polo.

Aquelas que optam por parir em casa contam com o apoio de uma mulher que tem o dom de “pegar barriga”, que geralmente são parentes próximas, senhoras que já tiveram filhos, com experiências em parto, conhecimentos de ervas, chás, banhos e rezas. Por meio da apalpação da barriga conseguem saber se a gravidez é “de gente” ou “de bicho”, além de determinar o sexo do bebê.

As mulheres podem parir de joelhos, de cócoras, ou como se sentirem melhor.

Elas também são responsáveis por fechar a “mãe do corpo” depois do parto e colocá-lo no lugar, quando se desloca, por meio de massagens no ventre. A “mãe de corpo”, segundo o conhecimento Munduruku, fica localizado abaixo do umbigo da mulher.

O que é muito legal também é que a mulher tem liberdade de posições: de joelhos, com as mãos apoiadas na rede; parcialmente deitada ou sentada no chão, com alguém segurando pelas costas com os braços ao redor da parturiente; ou “sentada” em um banquinho (um banco de altura pequena, talvez, uns 10 cm do chão), usado especialmente para o parto, com alguém apoiando pelas costas.

Depois de todo esse trabalho de parto altamente humanizado, o recém-nascido é amparado pela parteira, que também tem a função de preparar o local de parto, cortar o cordão umbilical e fazer o asseio da mulher no pós-parto.

Tudo isso nos mostra que ainda temos muito que aprender com a sabedoria dos indígenas, respeitar e valorizar essas culturas, que são milenares e muito importantes para nós.

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