“É possível ser feliz com câncer”, diz empresária em carta de despedida

"Morri cheia de gratidão no coração e cercada das melhores pessoas", escreveu

Uma empresária de Londrina, no Paraná, emocionou amigos e familiares com uma carta deixada para ser lida em seu funeral. Juliana Carvalho Lopes morreu no dia 4 de março, vítima de câncer de intestino, aos 45 anos, mas disse na despedida que estava preparada para isso e que viveu seus “últimos anos com dignidade e alegria, apesar do câncer.”

Juliana passou por oito procedimentos cirúrgicos desde que descobriu a doença. No fim, já sem chances de reverter o câncer, ela realizava apenas cuidados paliativos para alívio da dor.

“Morri cheia de gratidão”, disse empresária em carta
Créditos: reprodução/Instagram/fue_da_ju/
“Morri cheia de gratidão”, disse empresária em carta

Durante o tratamento, ela conta que encontrou as forças para lidar com as diferentes fases da doença.

“E fui sustentada pela força, o afeto, a parceria e o amor de vocês, cada um à sua maneira. E passei a tentar compreender os sentimentos e emoções das pessoas que me cercam, me atrevendo a entender e experimentar, da forma objetiva, racional, mas também, empática, o que sente o outro. Pra mim, funcionou, espero que pra vocês também. Uma certeza, morri cheia de gratidão no coração e cercada das melhores pessoas”, disse.

Ela também deixou um pedido na carta: para que as pessoas desmistifiquem o câncer ou outra doença grave e a morte, que – nas palavras dela – “é o maior clichê da nossa vida.”

Leia a íntegra da carta de de despedida

A minha hora chegou. E tá tudo bem, gente. Tive a oportunidade e o privilégio de me preparar pra ela. Me redescobrir e receber o melhor das pessoas.

Essa é uma despedida honesta e, absolutamente, grata. A despedida de uma vida linda, cheia de sentido, de amor e das pessoas mais especiais que eu poderia ter tido o privilégio de conviver. Minha família, minhas amigas e amigos e tanta gente, que apesar da pouca intimidade, se fez tão presente, com gestos, palavras, orações, força.

Durante o tratamento, passei por muitas fases aqui dentro de mim. E, felizmente, encontrei as minhas próprias ferramentas psíquicas para lidar com o câncer e com as pessoas da minha vida. E fui sustentada pela força, o afeto, a parceria e o amor de vocês, cada um à sua maneira.

E passei a tentar compreender os sentimentos e emoções das pessoas que me cercam, me atrevendo a entender e experimentar, da forma objetiva, racional, mas também, empática, o que sente o outro.

Pra mim, funcionou, espero que pra vocês também. Uma certeza, morri cheia de gratidão no coração e cercada das melhores pessoas.

Aliás, se eu puder deixar um pedido, desmistifiquem o câncer ou outra doença grave. Desmistifiquem a morte, afinal, ela é o maior clichê da nossa vida.

Meu objetivo, desde o meu diagnóstico foi desmistificar a doença, o processo e o fim da vida. Acho que funcionou, vocês entenderam e eu vivi os últimos anos com dignidade e alegria apesar do câncer. E como eu sempre repetia – com todo respeito a dor e a maneira que cada um tem de lidar com seus perrengues – é possível, sim, ser feliz com câncer. Eu fui.

Um recadinho para quem me acompanhou no trecho: Sei humildemente que sentirão saudades da minha presença, das minhas patifarias, da nossa convivência, eu já estou…

Mas, espero que se apeguem as nossas pequenas lembranças, nossos momentos de alegria e risadas, nossas trocas. Construam nossas memórias. Espero ter deixado material pra isso. Para carregarem um pouquinho de mim em cada um de vocês (só a parte boa!), mas com alegria, sem drama. Vocês sabem que drama nunca foi meu forte.

Li, certa vez, que “o luto é o preço do amor”. Eu, só posso agradecer o tanto de amor que vocês me dedicaram. E desejar que vocês, meus amados e amadas, vivam esse luto, do jeito mais leve e alegre que vocês puderem, assim como eu levei a vida.”

Câncer de intestino

A incidência do câncer de intestino ou câncer colorretal tem aumentado entre os mais jovens. O diagnóstico em adultos de 20 a 39 anos vem crescendo entre 1% e 2,4% por ano desde a década de 1980, de acordo com a Sociedade Americana de Câncer (ACS).

No Brasil, há estimativa do surgimento de 44 mil novos casos por ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

“É uma doença muito prevalente. É a terceira. Ela vai perder para [câncer de] mama, vai perder para [câncer de] próstata. Em terceiro lugar, vem o câncer colorretal”, disse o cirurgião oncológico Rubens Kesley, coordenador do Grupo de Câncer Colorretal do Inca.

A doença, no entanto, pode ser prevenida, pois quase sempre o tumor se desenvolve a partir de pólipos, que são lesões benignas que crescem na parede do intestino. Quando o pólipo é retirado evita-se que ele transforme-se em câncer.

O exame preventivo, colonoscopia, é indicado para a população geral a partir dos 50 anos de idade. Porém em casos de histórico familiar, deve-se iniciar o rastreamento mais cedo.

Fatores de risco para câncer de intestino

A alimentação pobre em fibras, assim como uma dieta rica em carne vermelha e embutidos estão relacionadas ao aumento do número de casos desse tipo de câncer.

Outros fatores que favorecem o surgimento de câncer do intestino são tabagismo, sedentarismo, obesidade e algumas doenças inflamatórias do intestino , como a retocolite ulcerativa.

O risco também aumenta com a idade, sendo mais comum após os 50 anos.