Estudo descobre ingrediente que pode provocar alterações genéticas associadas a câncer cerebral

Pesquisa publicada na Scientific Reports associa o adoçante à expressão de genes ligados ao glioblastoma, um dos tumores cerebrais mais agressivos

11/07/2025 13:02 / Atualizado em 21/07/2025 08:55

Um novo estudo publicado na Scientific Reports acende um alerta sobre o uso do aspartame, adoçante artificial amplamente presente em refrigerantes e alimentos com a alegação de serem “zero açúcar”. Os pesquisadores descobriram que a substância pode provocar alterações genéticas que intensificam a agressividade do glioblastoma multiforme, um tipo de câncer cerebral altamente maligno e de difícil tratamento.

Embora o estudo tenha sido realizado em camundongos, os resultados indicam que o consumo de aspartame não passou despercebido pelo organismo: houve uma alteração significativa no microbioma intestinal e na expressão de genes ligados à progressão tumoral.

Como o aspartame pode influenciar no câncer

De acordo com os cientistas, uma das principais descobertas foi a queda na abundância de bactérias da família Rikenellaceae no intestino dos animais expostos ao adoçante. Essa disbiose intestinal pode estar relacionada a mecanismos genéticos que tornam os tumores mais agressivos.

A pesquisa sugere que o aspartame altera o padrão de metilação do RNA na via N6-metiladenosina — processo fundamental para o controle da expressão genética e do ciclo de vida celular. Esse tipo de alteração pode favorecer o crescimento e a agressividade de células tumorais no cérebro.

Aspartame, presente em refrigerantes e alimentos com a alegação de serem “zero açúcar” é associado à expressão de genes ligados a câncer cerebral
Aspartame, presente em refrigerantes e alimentos com a alegação de serem “zero açúcar” é associado à expressão de genes ligados a câncer cerebral - axeiz77/istock

Aspartame e o risco de câncer: o que diz a OMS

Em 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o aspartame como “possivelmente cancerígeno”, colocando-o no grupo 2B de risco da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC). Isso significa que existem evidências limitadas de associação com o câncer em humanos e evidências insuficientes em animais.

Apesar disso, o adoçante ainda é permitido em produtos alimentícios, desde que o consumo não ultrapasse o limite diário considerado seguro: 40 miligramas por quilo de peso corporal. Para uma pessoa de 70 kg, isso equivale a cerca de 2.800 mg por dia — uma quantidade que pode ser alcançada facilmente com o consumo exagerado de produtos dietéticos.

Impactos para a saúde pública e novas recomendações

Segundo os autores do estudo, os resultados vão além da associação com o glioblastoma. Eles representam uma oportunidade para revisar o uso extensivo de adoçantes artificiais e investigar seus impactos de longo prazo na saúde humana.

“Essas descobertas não apenas reforçam a necessidade de avaliar com mais rigor a segurança do aspartame, como também apontam para uma possível ligação entre seu consumo e a progressão de tumores cerebrais”, concluem os cientistas.

A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD), que representa o setor  produtivo de edulcorantes e adoçantes no Brasil, enviou uma nota de posicionamento sobre o estudo. Veja a seguir:

Nota de Posicionamento ABIAD – Alegações contra aspartame

A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD) acompanha com atenção as recentes reportagens que relacionam o consumo de aspartame a possíveis alterações na microbiota intestinal e ao risco de desenvolvimento de tumores cerebrais, a partir de novos estudos experimentais realizados em modelos animais. O estudo divulgado foi realizado em camundongos e tem poder estatístico limitado, cujos resultados devem ser considerados preliminares e não podem ser diretamente transponíveis para humanos.

A ABIAD reafirma sua confiança no papel da ciência como base para a formulação de políticas públicas e orientações ao consumidor. Contudo, comunicar potenciais riscos com base em estudos experimentais isolados — que não refletem o consumo habitual de adoçantes em humanos — pode gerar interpretações equivocadas e alarmismo. A avaliação de segurança deve considerar o conjunto de evidências acumuladas e a real exposição da população, como fazem os órgãos reguladores internacionais. O aspartame é um dos aditivos alimentares mais estudados do mundo. Sua segurança tem sido amplamente avaliada por autoridades regulatórias internacionais independentes, como a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), a Food and Drug Administration (FDA), além do Comitê Conjunto de Especialistas em Aditivos Alimentares da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação e da Organização Mundial da Saúde (JECFA/FAO/OMS). Em sua revisão mais recente, em 2023, a JECFA1 reafirmou que o aspartame é seguro para consumo humano nas condições em que é utilizado, mantendo a Ingestão Diária Aceitável (IDA) em 40 mg/kg de peso corporal por dia.

Além disso, A hipótese de que o aspartame impacta negativamente a microbiota intestinal não se sustenta. O adoçante é rapidamente absorvido no intestino delgado e não chega ao cólon de forma intacta, o que torna improvável qualquer efeito direto sobre os microrganismos intestinais. O próprio estudo mencionado reconhece que não investigou os metabólitos do aspartame, o que limita suas conclusões. Portanto, a ABIAD reforça que o consumo de adoçantes autorizados, dentro dos limites estabelecidos por agências reguladoras nacionais, como a ANVISA, e internacionais, como EFSA2 e FDA continuam sendo uma ferramenta válida e segura para pessoas que necessitam de alternativas ao açúcar, como indivíduos com diabetes3 ou que buscam controlar o peso corporal4. A disseminação de informações descontextualizadas pode causar insegurança desnecessária em consumidores que fazem uso consciente desses produtos como parte de uma alimentação equilibrada.