Estudo revela por que de 40% dos pacientes com esquizofrenia ouvem vozes
Pesquisa fornece um novo entendimento sobre alucinações auditivas, sugerindo que elas resultam de uma combinação de mecanismos prejudicados no cérebro
Cientistas há muito tempo se intrigam com as origens das alucinações auditivas, um sintoma que afeta muitos com esquizofrenia. Um estudo recente de pesquisadores na China e nos Estados Unidos pode ter desvendado uma parte desse enigma de longa data.
Os autores do estudo concluem que as alucinações auditivas podem resultar de uma combinação de dois comprometimentos distintos na capacidade do cérebro de processar e prever informações sensoriais.
Suas descobertas, publicadas no periódico PLOS Biology, sugerem que essas alucinações surgem de uma interação complexa entre os sistemas motor e sensorial no cérebro, em vez de serem simplesmente um produto de imaginação hiperativa ou processamento sensorial que deu errado.
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Detalhes do estudo
O estudo focou em dois grupos de pacientes com esquizofrenia: aqueles que tiveram alucinações verbais auditivas e aqueles que não tiveram.
Ao comparar esses grupos entre si e com indivíduos saudáveis, os pesquisadores conseguiram identificar diferenças específicas na função cerebral que podem contribuir para a experiência de ouvir vozes.
No centro do estudo estão dois conceitos-chave em neurociência: descarga corolária (CD) e cópia de eferência (EC). Esses são sinais que o cérebro gera ao planejar ou executar um movimento, incluindo a fala.
Em um cérebro saudável, a CD atua como um sinal inibitório geral, amortecendo as respostas sensoriais a ações autogeradas. Isso nos ajuda a distinguir entre nossas próprias ações e eventos externos.
A EC, por outro lado, é mais específica, aprimorando as respostas sensoriais relacionadas à ação específica que está sendo realizada.
Os pesquisadores levantaram a hipótese de que em pessoas com alucinações auditivas, esses sistemas podem ser prejudicados de diferentes maneiras.
Para testar isso, eles projetaram experimentos inteligentes que lhes permitiram medir as respostas cerebrais durante vários estágios de preparação e execução da fala.
Os participantes foram solicitados a se preparar para falar em dois cenários diferentes. Em um, eles sabiam o que iriam dizer (preparação específica), enquanto no outro, eles só sabiam que iriam falar, mas não o que (preparação geral).
Durante essas fases de preparação, os pesquisadores tocaram sons e mediram as respostas do cérebro usando eletroencefalografia (EEG).
O que a pesquisa descobriu?
Os resultados foram impressionantes. Em indivíduos saudáveis, a preparação geral da fala suprimiu as respostas auditivas gerais – um sinal de função normal do CD.
No entanto, essa supressão estava ausente em ambos os grupos de pacientes com esquizofrenia, sugerindo um comprometimento fundamental nesse mecanismo inibitório.
Quando se tratava de preparação específica para a fala, as diferenças se tornaram ainda mais aparentes.
Em indivíduos saudáveis e pacientes com esquizofrenia sem alucinações, preparar-se para dizer uma sílaba específica aumentava as respostas cerebrais para essa mesma sílaba quando ouvida.
Em pacientes com alucinações auditivas, no entanto, ocorreu o oposto – seus cérebros mostraram respostas aumentadas para sílabas diferentes daquela que estavam se preparando para dizer.
Essas descobertas pintam um quadro de um sistema de CD “quebrado” combinado com um sistema de EC “barulhento” em indivíduos que vivenciam alucinações auditivas.
A falta de inibição adequada (CD quebrado) pode explicar por que esses indivíduos têm dificuldade em distinguir entre pensamentos internos e vozes externas. Enquanto isso, o aprimoramento impreciso (EC barulhento) pode ser responsável pelo conteúdo variado e frequentemente sem sentido das alucinações.