Estudo revela que tipo de gordura corporal pode ser definido no momento da concepção

Concepção no frio pode influenciar metabolismo na vida adulta, segundo pesquisadores

Por Silvia Melo em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
24/04/2025 07:02 / Atualizado em 25/04/2025 08:26

Um novo estudo publicado na revista Nature Metabolism trouxe descobertas surpreendentes sobre como o momento da concepção pode influenciar o tipo de gordura corporal que uma pessoa terá na vida adulta.

Segundo pesquisadores japoneses, indivíduos concebidos durante as estações frias do ano tendem a desenvolver mais tecido adiposo marrom, um tipo de gordura considerada “boa”, por sua capacidade de queimar energia em vez de armazená-la.

O tecido adiposo marrom tem ganhado destaque nos últimos anos devido ao seu potencial papel terapêutico no combate à obesidade e ao diabetes tipo 2.

Ao contrário da gordura branca, que armazena calorias, o marrom consome energia para manter a temperatura corporal, sendo ativado principalmente em ambientes frios.

Estudo sugere que o momento da concepção pode influenciar o tipo de gordura corporal que uma pessoa terá na vida adulta
Estudo sugere que o momento da concepção pode influenciar o tipo de gordura corporal que uma pessoa terá na vida adulta - Anna Derzhina/istock

Detalhes da pesquisa

A pesquisa avaliou mais de 500 pessoas divididas em quatro coortes independentes. A partir das datas de nascimento, os cientistas estimaram a data provável de concepção e cruzaram esses dados com informações sobre temperatura ambiente, composição corporal e metabolismo.

Na primeira coorte, composta por 356 jovens japoneses saudáveis, os participantes concebidos em estações frias apresentaram maior atividade do tecido adiposo marrom. Além disso, exibiram características associadas à saúde metabólica, como maior gasto energético, menor índice de massa corporal (IMC) e menor acúmulo de gordura visceral — que é a gordura prejudicial acumulada em torno dos órgãos.

Esses resultados se repetiram, ainda que de forma mais modesta, em uma segunda coorte composta por 286 adultos de diferentes faixas etárias e sexos. Novamente, foi observada uma associação entre a concepção em épocas frias e melhores indicadores metabólicos.

Gordura boa e saúde metabólica: existe relação genética?

Os autores do estudo sugerem que a principal explicação para esses achados está na ativação do tecido adiposo marrom ainda nas primeiras fases do desenvolvimento. Eles levantam a hipótese de que o frio ambiental no momento da concepção possa provocar alterações epigenéticas — mudanças químicas que regulam a atividade dos genes sem alterar o DNA em si.

Esse “ajuste epigenético” pode afetar células reprodutivas, como espermatozoides e óvulos, transmitindo uma espécie de memória térmica aos descendentes. A teoria é que essa adaptação evolutiva serviria para preparar os futuros filhos para ambientes frios, favorecendo a geração de gordura marrom, que ajuda na regulação térmica e energética.

Possíveis impactos na prevenção da obesidade e doenças metabólicas

Embora os dados apontem para uma associação entre clima na concepção e maior atividade da gordura marrom, os pesquisadores destacam que ainda não é possível confirmar uma relação de causa e efeito. Mais estudos são necessários para compreender completamente os mecanismos biológicos envolvidos e avaliar se é possível estimular a formação de gordura marrom em qualquer fase da vida.