Internação para exames leva jovem a 12 transfusões de sangue: ‘minha história não teria o mesmo fim’
Durante a investigação de uma doença intestinal, Giulia descobriu que precisava de transfusões de sangue com urgência
Em dezembro de 2024, o que seria uma internação para um exame acabou se transformando em um longo e difícil período em tratamento.
Essa é a história de Giulia Nogueira Gomes Melo, de 22 anos, que procurou um hospital no Rio de Janeiro para investigar as fortes dores abdominais que sentia há anos. Os médicos suspeitavam de uma Doença Inflamatória Intestinal (DII), então a encaminharam para uma colonoscopia.

Internada para realizar os exames, Giulia iniciou um tratamento com ferro e antibióticos intravenosos, porque estava muito fraca e perdendo sangue pelas fezes. No entanto, mesmo com todos os cuidados, o sangramento só piorou.
“Um dia após o exame, eu comecei a perder muito mais sangue pelas fezes. Como eu já estava fraca desde que cheguei no hospital, só piorou a minha situação e foi aí que a minha jornada com as transfusões começou”, lembra a estudante de jornalismo, em entrevista à Catraca Livre.
A jovem precisou de 12 transfusões de sangue
Giulia recebeu o diagnóstico da doença de Crohn, uma condição crônica e autoimune que provoca inflamações no sistema digestivo e pode afetar a saúde de todo o organismo.
A colonoscopia e a biopsia mostraram que o intestino grosso dela já estava bastante inflamado. Além disso, depois dos exames, o quadro piorou ainda mais.
“Eu comecei a perder muito sangue, e dessa vez ele não estava mais oculto. Foi nesse momento que eles acharam necessário fazer uma transfusão de sangue. Eu estava com 21 anos“, revela.
A notícia de que precisaria de uma transfusão veio em um dos momentos mais difíceis.
“Foi assustador no primeiro momento, mas acredito que foi por causa da situação geral. Eu estava muito mal e bem abatida: o que tinha começado apenas como uma internação para fazer um exame resultou em uma transfusão de sangue. Acho que foi o momento em que eu entendi que a situação estava séria”, diz.
Durante os 30 dias de internação, Giulia precisou de 12 bolsas de sangue e duas cirurgias de emergência para retirada do intestino grosso. Cada transfusão era essencial para mantê-la forte o suficiente para continuar.
“Não consigo nem descrever o quão importante isso foi para mim, […] toda vez que recebia uma doação, me ajudava a ter um pouco mais de força, pelo menos por algum tempo, para lutar mais um pouco”, relata.

Rede de apoio e incentivo à doação de sangue
Giulia não estava sozinha. A cada nova transfusão, o hospital pedia que ela incentivasse outras pessoas a doarem sangue. A resposta veio em forma de solidariedade.
“Meus amigos ficaram sabendo disso e se juntaram para doar sangue juntos. Pelo que eu sei, ao menos 50 pessoas participaram desse movimento. Sou muito grata por cada um, porque sei que, além de me ajudar, ajudou muita gente que precisava.”
Antes de tudo acontecer, Giulia já sabia da importância de doar sangue, mas nunca conseguiu. Isso porque, sem saber que convivia com a doença de Crohn, ela vivia constantemente anêmica e abaixo do peso mínimo exigido para a doação, que é de 50 quilos.
Hoje, ela acredita que a experiência transformou não só sua visão sobre o tema, mas também a de todos ao seu redor.
“Sempre pensamos que é uma coisa muito distante da gente, até o momento que não é mais. […] Meu namorado continua com as doações, assim como alguns dos meus amigos. Acredito que quando uma pessoa que a gente ama passa por uma situação tão difícil, temos uma capacidade ainda maior de nos colocar no lugar dos outros.”
Como Giulia está atualmente?
Atualmente, Giulia está no processo de tentar a remissão da doença de Crohn, seguindo um tratamento com imunobiológico e imunossupressor, além de manter uma dieta controlada, mas sem restrições extremas.
Desde a cirurgia, ela utiliza uma bolsa de ileostomia, que deve ser retirada entre o final deste ano e o meio de 2026, dependendo da resposta aos medicamentos.
“Mas, honestamente, nem me importo com isso, essa bolsa me deu outra chance de viver, eu sou muito grata“, pontua a jovem.
A carioca ressalta que hoje passa a maior parte do tempo livre das dores intensas que sentia antes e, quando elas aparecem, está pronta para enfrentá-las: “Eu tô bem, tô viva e, o mais importante, vivendo com qualidade.”
Gratidão e importância da doação
A estudante é muito grata por todos os anônimos, que ajudaram em seu tratamento com um gesto que ultrapassa o físico. “Queria que as pessoas lembrassem que doar sangue é doar mais uma chance de vida.”
“Se não fosse por cada uma das 12 bolsas de sangue que eu recebi, acredito que minha história não teria o mesmo fim que teve. Cada vez que eu recebia uma transfusão, eu recebia um pouco de vida, que me ajudava a lutar mais um pouco e aguentar firme a cada cirurgia“, destaca a jovem.
E se pudesse falar diretamente com os doadores que salvaram sua vida, ela não hesita:
“Agradeceria pessoalmente a cada uma dessas pessoas, porque esse pequeno grande ato salvou a minha vida e eu vou ser para sempre grata a cada uma delas.”
Junho Vermelho é o mês de conscientização para a doação de sangue. Vivências como a de Giulia mostram que cada bolsa doada pode ser decisiva. Doe sangue. Salve vidas. Confira mais conteúdos especiais clicando aqui.