Médicos operam feto dentro do útero da mãe em cirurgia inédita
Procedimento minimamente invasivo durou menos de duas horas
Em um procedimento inédito, médicos de três instituições operaram o intestino de um feto com má formação congênita dentro do útero da mãe. A cirurgia aconteceu no Hospital da Criança e Maternidade (HCM), em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo.
Os médicos realizaram pequenos cortes na barriga da mulher para introduzir instrumentos usados na cirurgia. O procedimento minimamente invasivo corrigiu uma gastrosquise, anomalia em que o intestino fica para o lado de fora do abdômen. Até então, essa correção só era feita após o nascimento do bebê.
O feto foi operado com 33 semanas de gestação e a opção por realizar esse procedimento ainda na barriga é pelo fato disso diminuir riscos e complicações. Além de nascer sadio, a correção permite que o bebê mame imediatamente no seio da mãe depois de nascer.
“Quando essa cirurgia é feita após o nascimento, o intestino já tem um dano inflamatório grande, muitas vezes nasce muito inchado e rígido e é mais difícil colocar para dentro, por isso o tempo de internação tão grande”, explica Gustavo Henrique de Oliveira, especialista em medicina fetal do Hospital da Criança e Maternidade. “Se corrige dentro do útero, o intestino não sofre o processo inflamatório tão intenso e já está se acostumando,” completa;
A cirurgiã fetal Denise Lapa, que desenvolveu esta técnica de fetoscopia, ressaltou que o sucesso deste feito inédito deve-se ao trabalho da equipe, motivada pelo impacto emocional da evolução médica para a paciente. “Poder pegar seu filho no colo no momento que ele nasce, poder amamentá-lo é extremamente importante, precioso para a mãe”, afirma.
Os cirurgiões acreditam que a experiência com esse procedimento agora possa beneficiar milhares de futuros bebês no Brasil e no mundo.
Fatores de risco da Gastrosquise
A gastrosquise ocorre durante o desenvolvimento do feto. Com a anomalia, a parede abdominal não fecha completamente e os intestinos e outros órgãos podem sair por essa abertura.
A má formação ocorre com maior frequência em bebês de adolescentes brancos, mas alguns comportamentos e condições da mãe durante a gestação aumentam os riscos disso acontecer, como, por exemplo, fumar, consumir álcool ou ter infecções urinárias.
Um exame de sangue nos primeiros meses de gravidez pode indicar a possibilidade de gastrosquise. A anomalia também pode ser vista com um ultra-som do feto.