O esporte muito além da silhueta socialmente imposta
Diversidade de corpos incomoda críticos que não poupam atletas considerados baixos demais, altos demais, magros demais, fortes demais, e por aí vai
As olimpíadas, obviamente, são o assunto mais comentado no país e no mundo. Equipes de todo o planeta reuniram o melhor de seus atletas em categorias diversas para competirem em Tóquio. E a diversidade não se limita aos esportes, mas também está presente nos corpos e silhuetas plurais dos atletas. E eles, mesmo despontando dentro de quadras e ginásios, não foram poupados de comentários que variaram de gordofóbicos à objetificação feminina.
Atletas julgados vulgarmente por não estarem de acordo com o padrão de beleza sofrem com piadas infames, como foi o caso de Barbara Barbosa, goleira da nossa seleção de futebol feminino. E os ignorantes de plantão também não poupam atletas considerados baixos demais, altos demais, magros demais, fortes demais, e por aí vai.
O corpo do atleta parece coletivo, já que a superexposição e sensação de serem pessoas conhecidas, dada a conexão com o público, mantêm desconhecidas da grande massa a realidade de treinos, alimentação balanceada e organização da rotina, o que permite que o falatório e o desrespeito se mantenham.
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Muitos não sabem do fato de que atletas em geral, e principalmente aqueles cujos esportes têm categorias relacionadas a peso corporal, como ginastas, jóqueis e lutadores, por exemplo, são grupo de risco para o desenvolvimento de transtornos de alimentares. Quando pensamos nas mulheres atletas, esse risco é ainda maior. Isso se dá justamente pela relação cruel feita pela sociedade, na esperança de que elas, no ápice do desempenho físico, desfilem em competições portando muito mais que medalhas, mas corpos esculturais.
A “tríade da mulher atleta”, que se refere à soma de três doenças graves que muitas delas têm a potencialidade de desenvolver – transtornos alimentares, amenorreia (ausência da menstruação) e osteoporose (ossos mais frágeis e maior risco de fraturas) –, é uma realidade muitas vezes ignorada em prol dos resultados e da aparência.
Com a pressão estética imposta por nós sobre a forma física dos atletas, aumenta-se ainda mais a chance de adoecimento dos profissionais. Não distante disso, vimos a ginasta americana Simone Biles, por exemplo, gritar para os quatro cantos sobre a importância de levarmos à sério a saúde mental dos atletas, além da saúde física.
Enquanto o COI, Comitê Olímpico Internacional, anunciou que as provas devem ter equilíbrio entre participantes homens e mulheres, eu espero que, além disso, torne-se regra o respeito e valorização do esporte acima de silhuetas ditas perfeitas.
Texto escrito pela nutricionista Marcela Kotait.