Por que sentimos mais fome em dias frios? A ciência explica

Sentir mais fome no frio é natural, mas é importante estar atento à qualidade do que se consome

Por André Nicolau em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
17/06/2025 16:45 / Atualizado em 22/06/2025 00:30

Sentir mais fome no frio é natural, mas é importante estar atento à qualidade do que se consome – skynesher/iStock
Sentir mais fome no frio é natural, mas é importante estar atento à qualidade do que se consome – skynesher/iStock - Getty Images

Com a chegada do inverno, não são apenas os casacos e cobertores que saem do armário. O apetite também parece ganhar uma nova camada — e geralmente bem mais calórica. Sopas fartas, massas quentes, chocolates, fondues… Tudo parece mais apetitoso quando a temperatura cai. Mas por que sentimos mais fome em dias frios?

A ciência tem explicações bem fundamentadas para esse fenômeno. Segundo um estudo publicado na revista científica Nature Metabolism em 2021, realizado por pesquisadores da Universidade de Genebra, na Suíça, o corpo humano aumenta naturalmente o gasto energético para manter a temperatura corporal estável em ambientes frios — um processo conhecido como termogênese. Essa queima extra de energia desencadeia a sensação de fome como resposta fisiológica, buscando repor as calorias utilizadas.

O corpo trabalha mais para manter o calor

Quando a temperatura externa diminui, o hipotálamo — região do cérebro responsável por regular diversas funções vitais, incluindo a fome e a temperatura corporal — ativa mecanismos que aumentam a produção de calor. Entre eles estão o tremor muscular involuntário e a ativação de um tipo especial de gordura presente em nosso corpo: a gordura marrom.

Ao contrário da gordura branca (que armazena energia), a gordura marrom é especializada em gerar calor, queimando calorias rapidamente. O estudo suíço demonstrou que, em temperaturas frias, há um aumento na atividade dessa gordura, o que leva a uma elevação do gasto calórico basal. E é justamente aí que entra a fome: o corpo interpreta essa queima como uma perda que precisa ser compensada.

Fator evolutivo também influencia

Outro estudo, conduzido pela Universidade de Exeter, no Reino Unido, publicado no Journal of Comparative Physiology B, aponta que essa resposta pode estar enraizada em nossa evolução. Nossos ancestrais enfrentavam invernos rigorosos com recursos alimentares escassos. Por isso, o organismo desenvolveu mecanismos para estimular a ingestão calórica nos meses frios, como forma de criar reservas energéticas e proteger o corpo contra o frio extremo.

Apesar de vivermos hoje em ambientes climatizados, com comida disponível o ano todo, nosso corpo ainda carrega esse instinto de sobrevivência ancestral — e ele se manifesta como aquele desejo incontrolável por alimentos mais calóricos nos dias gelados.

Nosso organismo desenvolveu mecanismos para estimular a ingestão calórica nos meses frios – Ivan Rodriguez Alba/iStock
Nosso organismo desenvolveu mecanismos para estimular a ingestão calórica nos meses frios – Ivan Rodriguez Alba/iStock - Getty Images

Não é só o corpo — o humor também pesa no prato

Além das explicações fisiológicas, o frio também pode afetar nosso estado emocional. A redução da exposição à luz solar diminui os níveis de serotonina no cérebro, um neurotransmissor ligado à sensação de bem-estar. Com isso, cresce a vontade de consumir alimentos ricos em açúcar e carboidratos, que estimulam a liberação desse composto e oferecem uma espécie de “recompensa emocional”.

Como lidar com isso?

Sentir mais fome no frio é natural, mas é importante estar atento à qualidade do que se consome. Apostar em alimentos que aquecem o corpo e nutrem, como sopas ricas em legumes, proteínas magras e grãos integrais, pode ajudar a equilibrar o apetite e manter a saúde. Um pouco de chocolate quente não faz mal — desde que com moderação.

Portanto, da próxima vez que bater aquela fome extra ao menor sinal de frio, lembre-se: não é apenas gula, é ciência — e um pouquinho de evolução também.


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