Remédios indicados por Bolsonaro são campeões de buscas

Comportamento online indica o grau de desinformação provocado pelo governo Bolsonaro

19/01/2021 09:44

O chamado “kit cloroquina” teve uma explosão de buscas em 2020. Com o presidente Jair Bolsonaro, que não é médico, indicando equivocadamente um tratamento precoce – que não existe – contra a covid-19, as pesquisas por Hidroxicloroquina, Ivermectina, Azitromicina e Annita lideraram o interesse de compra na plataforma Consulta Remédios.

De acordo com o site, que conta com mais de 120 milhões de usuários cadastrados, a Ivermectina somou 9.293.076 buscas no ano passado e foi seguida pela Azitromicina, com 3.590.608 buscas.

Urgente abandonar hidroxicloroquina, diz Sociedade Brasileira de Infectologia
Urgente abandonar hidroxicloroquina, diz Sociedade Brasileira de Infectologia - Liliboa/istock

A hidroxicloroquina aparece em terceiro lugar, com 2.768.334 buscas. Em quarto lugar, vem o Dexametasona, com 2.682.689 buscas; em quinto, aparece a Prednisona, com 2.249.605 buscas e na sexta colocação vem o vermífugo Annita, com 2.232.544 buscas.

Para Francielle Mathias, farmacêutica responsável pela plataforma, a explicação para a liderança da Ivermectina nesse ranking está no fato de ser um medicamento de fácil acesso e o baixo custo nas farmácias, além da ampla divulgação feita pelo governo.

Drogas sem comprovação científica contra covid-19

O comportamento dos brasileiros em busca de medicamentos sem nenhuma comprovação científica contra covid-19 mostra como a desinformação propagada pelo governo tem o poder de mobilização.

Em julho do ano passado, após inúmeros estudos alertarem para o perigo de tomar hidroxicloroquina, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) afirmou que era urgente abandonar o uso da droga no tratamento de pacientes com covid-19, em qualquer fase da doença, inclusive na sua prevenção.

Evidências científicas mostraram que o remédio não só não possui benefício contra a doença, como também pode agravar quadros de pacientes internados e causar a morte.

Apesar disso, o governo Bolsonaro insistia em prescrever a droga, chegando a enviar um ofício à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) pedindo que a instituição indicasse e promovesse amplamente no SUS o tratamento com uso de cloroquina e hidroxicloroquina para pacientes de covid-19, já nos primeiros dias de sintomas.

O documento dizia que a medicação fazia parte de estratégia do Ministério da Saúde para reduzir o número de casos de internação hospitalar.