Síndrome de pica: conheça o distúrbio alimentar que afeta mais grávidas e crianças

Saiba como reconhecer o transtorno alimentar que pode indicar deficiências nutricionais ou questões emocionais; nutricionista orienta

Por Caroline Vale em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
14/05/2025 16:09 / Atualizado em 26/05/2025 11:18

A alotriofagia, distúrbio alimentar popularmente chamado de síndrome de pica, é quando a pessoa sente vontade de comer substâncias que não são alimentos.

Tudo sobre a síndrome de pica
Tudo sobre a síndrome de pica - iStock/Phynart Studio

Na prática clínica, a gente começa a desconfiar quando esse comportamento é frequente e a pessoa não consegue explicar o motivo, ou não acha estranho. Às vezes é algo que vem acontecendo há meses e ela só comenta por acaso“, explica a nutricionista Jaqueline Lagares, em entrevista à Catraca Livre.

Características da síndrome de pica

O nome “pica” vem de uma ave chamada pega-rabuda ou pega-rabilonga (Pica pica), conhecida por comer tudo o que vê pela frente.

Segundo a especialista, pessoas com a síndrome geralmente comem terra, gelo, amido cru, sabão, pedra, cabelo, papel, giz, carvão: “É bem variado. Tem gente que come até pedaços de plástico ou tecido.”

Para investigar se uma pessoa tem o transtorno, o principal é observar a frequência e a duração em que a prática está ocorrendo. Se foi uma atitude isolada, por curiosidade ou sem repetição, não costuma ser preocupante.

Agora, se é algo que acontece com frequência, por semanas ou meses, e a pessoa tem dificuldade de parar, aí sim precisa de atenção“, destaca.

A ingestão de substâncias não comestíveis pode causar intoxicação, infecções, obstrução intestinal, problemas dentários e envenenamento: “fora os riscos a longo prazo, como deficiência de nutrientes se a alimentação habitual for prejudicada.”

Crianças pequenas estão entre os mais vulneráveis a desenvolver esse transtorno
Crianças pequenas estão entre os mais vulneráveis a desenvolver esse transtorno - iStock/Denis Moskvinov

Quais são os grupos mais vulneráveis a desenvolver esse transtorno?

  • Crianças pequenas;
  • Gestantes;
  • Pessoas com transtornos do desenvolvimento ou deficiência intelectual;
  • Pessoas com deficiência de ferro e zinco. “Em alguns casos, a vontade de comer terra, por exemplo, pode ser uma forma do corpo ‘avisar’ que está faltando algum nutriente, mas claro que nem sempre é só isso“, ressalta Jaqueline.

“Adultos também podem apresentar, especialmente quando estão com algum quadro emocional ou nutricional mais grave.”

Quando procurar ajuda?

Quando o comportamento começa a impactar a saúde física, emocional ou a rotina diária, já é um sinal importante de que é hora de buscar ajuda.

Outro alerta, ainda segundo a profissional, é quando o consumo dessas substâncias se torna compulsivo, difícil de controlar, ou quando familiares percebem mudanças que fogem do habitual.

Pessoas com a síndrome de pica devem procurar ajuda de psiquiatras e psicólogos. O diagnóstico é clínico e se baseia na ingestão repetida de itens não comestíveis por pelo menos 30 dias.

Exames podem ser solicitados e o médico pode encaminhar para outras especialidades em casos de complicações, como obstrução intestinal.

Tratamento da síndrome de pica

Para o tratamento, é fundamental envolver psicólogo, psiquiatra e, às vezes, até médico pediatra ou clínico. É um cuidado multidisciplinar mesmo, porque envolve tanto o corpo quanto o comportamento e as emoções“, destaca.

O nutricionista ajuda muito na investigação das causas, especialmente se houver deficiência nutricional envolvida. Além disso, orienta sobre uma alimentação mais equilibrada e faz o acompanhamento para verificar se, com a correção dos nutrientes, o comportamento melhora.

Quando a pica está associada à deficiência de ferro ou zinco, corrigir esse desequilíbrio costuma ajudar a reduzir o comportamento. Porém, nem sempre a causa é apenas nutricional, por isso é importante avaliar cada caso com atenção.