Síndrome de pica: conheça o distúrbio alimentar que afeta mais grávidas e crianças
Saiba como reconhecer o transtorno alimentar que pode indicar deficiências nutricionais ou questões emocionais; nutricionista orienta
A alotriofagia, distúrbio alimentar popularmente chamado de síndrome de pica, é quando a pessoa sente vontade de comer substâncias que não são alimentos.

“Na prática clínica, a gente começa a desconfiar quando esse comportamento é frequente e a pessoa não consegue explicar o motivo, ou não acha estranho. Às vezes é algo que vem acontecendo há meses e ela só comenta por acaso“, explica a nutricionista Jaqueline Lagares, em entrevista à Catraca Livre.
Características da síndrome de pica
O nome “pica” vem de uma ave chamada pega-rabuda ou pega-rabilonga (Pica pica), conhecida por comer tudo o que vê pela frente.
Segundo a especialista, pessoas com a síndrome geralmente comem terra, gelo, amido cru, sabão, pedra, cabelo, papel, giz, carvão: “É bem variado. Tem gente que come até pedaços de plástico ou tecido.”
Para investigar se uma pessoa tem o transtorno, o principal é observar a frequência e a duração em que a prática está ocorrendo. Se foi uma atitude isolada, por curiosidade ou sem repetição, não costuma ser preocupante.
“Agora, se é algo que acontece com frequência, por semanas ou meses, e a pessoa tem dificuldade de parar, aí sim precisa de atenção“, destaca.
A ingestão de substâncias não comestíveis pode causar intoxicação, infecções, obstrução intestinal, problemas dentários e envenenamento: “fora os riscos a longo prazo, como deficiência de nutrientes se a alimentação habitual for prejudicada.”

Quais são os grupos mais vulneráveis a desenvolver esse transtorno?
- Crianças pequenas;
- Gestantes;
- Pessoas com transtornos do desenvolvimento ou deficiência intelectual;
- Pessoas com deficiência de ferro e zinco. “Em alguns casos, a vontade de comer terra, por exemplo, pode ser uma forma do corpo ‘avisar’ que está faltando algum nutriente, mas claro que nem sempre é só isso“, ressalta Jaqueline.
“Adultos também podem apresentar, especialmente quando estão com algum quadro emocional ou nutricional mais grave.”
Quando procurar ajuda?
Quando o comportamento começa a impactar a saúde física, emocional ou a rotina diária, já é um sinal importante de que é hora de buscar ajuda.
Outro alerta, ainda segundo a profissional, é quando o consumo dessas substâncias se torna compulsivo, difícil de controlar, ou quando familiares percebem mudanças que fogem do habitual.
Pessoas com a síndrome de pica devem procurar ajuda de psiquiatras e psicólogos. O diagnóstico é clínico e se baseia na ingestão repetida de itens não comestíveis por pelo menos 30 dias.
Exames podem ser solicitados e o médico pode encaminhar para outras especialidades em casos de complicações, como obstrução intestinal.
Tratamento da síndrome de pica
“Para o tratamento, é fundamental envolver psicólogo, psiquiatra e, às vezes, até médico pediatra ou clínico. É um cuidado multidisciplinar mesmo, porque envolve tanto o corpo quanto o comportamento e as emoções“, destaca.
O nutricionista ajuda muito na investigação das causas, especialmente se houver deficiência nutricional envolvida. Além disso, orienta sobre uma alimentação mais equilibrada e faz o acompanhamento para verificar se, com a correção dos nutrientes, o comportamento melhora.
Quando a pica está associada à deficiência de ferro ou zinco, corrigir esse desequilíbrio costuma ajudar a reduzir o comportamento. Porém, nem sempre a causa é apenas nutricional, por isso é importante avaliar cada caso com atenção.