Técnica anti-idade faz células da pele voltarem 30 anos no tempo

Os resultados podem levar a uma abordagem direcionada para o tratamento do envelhecimento

Uma pesquisa do Instituto Babraham, da Inglaterra, desenvolveu um método para que as células da pele humana ‘voltem no tempo’ em 30 anos, retrocedendo o relógio do envelhecimento das células sem perder sua função especializada.

O trabalho dos pesquisadores conseguiu restaurar parcialmente a função de células mais velhas, bem como rejuvenescer as medidas moleculares da idade biológica. A pesquisa foi publicada no começo de abril na revista eLife e, embora esteja em um estágio inicial de exploração, pode revolucionar a medicina regenerativa.

Técnica anti-idade faz células da pele voltarem 30 anos no tempo
Créditos: wundervisuals/istock
Técnica anti-idade faz células da pele voltarem 30 anos no tempo

“Com esse método, os pesquisadores puderam atrasar o relógio biológico das células da pele, criando células-tronco a partir de células maduras, que podem ser usadas para tratar doenças da pele no futuro”, explica o dermatologista Dr. Daniel Cassiano, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

“À medida que envelhecemos, a capacidade de funcionamento de nossas células diminui e o genoma acumula marcas de envelhecimento. As pesquisas em Biologia Regenerativa visam reparar ou substituir células, incluindo as antigas”, acrescenta o médico.

Reprogramação de células-tronco

Uma das ferramentas mais importantes na biologia regenerativa é a capacidade de criar células-tronco ‘induzidas’. O processo é resultado de várias etapas, cada uma apagando algumas das marcas que tornam as células especializadas.

As alicações potenciais desta técnica dependem das células não apenas parecerem mais jovens, mas também funcionarem como células jovens
Créditos: obewon/istock
As alicações potenciais desta técnica dependem das células não apenas parecerem mais jovens, mas também funcionarem como células jovens

“O novo método, baseado na técnica vencedora do Prêmio Nobel que os cientistas usam para produzir células-tronco, supera o problema de apagar completamente a identidade celular ao interromper a reprogramação em parte do processo. Isso permitiu que os pesquisadores encontrassem o equilíbrio preciso entre a reprogramação das células, tornando-as biologicamente mais jovens, enquanto ainda eram capazes de recuperar sua função celular especializada”, explica o dermatologista.

Em 2007, Shinya Yamanaka foi o primeiro cientista a transformar células normais, que têm uma função específica, em células-tronco que têm a capacidade especial de se desenvolver em qualquer tipo de célula.

O processo completo de reprogramação de células-tronco leva cerca de 50 dias usando quatro moléculas-chave chamadas fatores Yamanaka. O novo método, chamado ‘reprogramação transitória da fase de maturação’, expõe as células aos fatores Yamanaka por apenas 13 dias.

“Nesse ponto, as alterações relacionadas à idade são removidas e as células perdem temporariamente sua identidade. As células parcialmente reprogramadas tiveram tempo para crescer em condições normais, para observar se a função específica das células da pele retornou. A análise do genoma mostrou que as células recuperaram marcadores característicos das células da pele (fibroblastos), e isso foi confirmado pela observação da produção de colágeno nas células reprogramadas”, explica o médico.

Células 30 anos mais jovens

Para mostrar que as células foram rejuvenescidas, os pesquisadores procuraram mudanças nas características do envelhecimento. Segundo o estudo, a compreensão do envelhecimento em nível molecular progrediu na última década, dando origem a técnicas que permitem aos pesquisadores medir mudanças biológicas relacionadas à idade nas células humanas.

“Os cientistas conseguiram aplicar isso ao experimento para determinar a extensão da reprogramação alcançada pelo novo método”, diz o Dr. Daniel. Os pesquisadores analisaram várias medidas de idade celular. O primeiro é o relógio epigenético, onde as marcas químicas presentes em todo o genoma indicam a idade. O segundo é o transcriptoma, todas as leituras de genes produzidas pela célula. “Por essas duas medidas, as células reprogramadas corresponderam ao perfil de células 30 anos mais jovens em comparação com conjuntos de dados de referência”, explica.

Segundo o médico, as aplicações potenciais desta técnica dependem das células não apenas parecerem mais jovens, mas também funcionarem como células jovens.

No futuro, essa pesquisa também poderá abrir outras possibilidades terapêuticas; os pesquisadores observaram que seu método também teve um efeito em outros genes ligados a doenças e sintomas relacionados à idade. O gene APBA2, associado à doença de Alzheimer, e o gene MAF com papel no desenvolvimento da catarata, ambos mostraram alterações em níveis de transcrição juvenis.

“Os resultados representam um grande passo na compreensão da reprogramação celular. O trabalho mostrou que as células podem ser rejuvenescidas sem perder sua função e que o rejuvenescimento procura restaurar alguma função das células velhas. Há a expectativa de que, no futuro, poderemos identificar genes que rejuvenescem sem reprogramação e que sejam direcionados para reduzir os efeitos do envelhecimento “, diz o médico.