Tricotilomania: o distúrbio psicológico que pode ter a ansiedade como gatilho

O comportamento que faz a pessoa arrancar os pelos do corpo geralmente é precedido por uma sensação de tensão, seguida de sensação de gratificação

Por Silvia Melo em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
18/12/2024 06:19

Um desejo incontrolável e frequente de arrancar fios de cabelo ou pelos de seu próprio corpo. É assim que a pessoa que sofre de tricotilomania descreve o transtorno, que é fortemente à ansiedade e problemas emocionais. 

Na tricotilomania, os pelos geralmente são arrancados da cabeça, das sobrancelhas ou dos cílios, mas o distúrbio pode aparecer em qualquer área dos pelos do corpo.

Apesar de não ser amplamente conhecido, é um distúrbio reconhecido pela comunidade médica e classificado no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) como um transtorno obsessivo-compulsivo e relacionado.

“Muitas vezes, a condição pode envolver rituais, quando a pessoa seleciona um fio, ou um número determinado de fios, ou ainda um tipo específico de fio (grossos ou finos, mais claros ou escuros, mais ondulados ou mais lisos) para remover” explica a dermatologista Dra. Cintia Guedes, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Tricotilomania é um distúrbio comportamental que leva as pessoas a arrancarem o próprio cabelo ou pelo do corpo
Tricotilomania é um distúrbio comportamental que leva as pessoas a arrancarem o próprio cabelo ou pelo do corpo - coffeekai/istock

De acordo com a médica, geralmente são mulheres, que chegam no consultório do dermatologista se queixando de falhas no couro cabeludo. “Algumas delas percebem os impulsos. Outras podem arrancar os fios de maneira automática, durante atividades rotineiras, como por exemplo enquanto assistem televisão. Dessa forma, as falhas aparecem sem que se perceba quando elas começaram”, diz.

Além do desconforto, a tricotilomania pode causar uma série de outros problemas, como a falha capilar perceptível, vermelhidão e até infecções graves. “A condição também pode deixar cicatrizes, que podem exigir tratamentos profissionais.

Como a tricotilomania manifesta-se?

A condição geralmente aparece pela primeira vez durante a puberdade, mas também pode se desenvolver na primeira infância ou na idade adulta. Os sintomas podem durar meses a anos e, para alguns, até a vida toda. 

Em casos emocionais, o paciente está mais consciente de sua compulsão, ainda que não consiga resistir ao impulso de remover os fios, segundo a médica.

Desta forma, podem surgir inúmeras emoções negativas como a frustração (por não conseguir controlar os impulsos), vergonha, medo de ser descoberto, além da insatisfação com a aparência (acarretada pela falta de cabelos em determinadas áreas da cabeça).

A médica cita ainda que também pode ocorrer que pessoas que sofrem com a tricotilomania tenham também problemas com outros comportamentos repetitivos focados no corpo, como onicofagia (roer as unhas), dermatilomania (impulso de causar lesões na própria pele por razões não cosméticas) ou ainda transtornos como depressão.

Sinais e sintomas da tricotilomania

  • Arrancar fios de forma recorrente: pode ocorrer em qualquer área do corpo onde crescem pelos.
  • Tentativas fracassadas de parar o comportamento, mesmo quando o indivíduo reconhece o impacto negativo.
  • Zonas de falhas visíveis no couro cabeludo, sobrancelhas ou outros locais.
  • Hábito realizado em momentos de estresse, ansiedade ou tédio.
  • Sentimentos de vergonha e isolamento.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da tricotilomania deve ser realizado por um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou psiquiatra. Geralmente, é feita uma avaliação clínica detalhada para entender os hábitos do paciente, identificar gatilhos emocionais e descartar outras condições médicas, como alopecia areata.

O tratamento da tricotilomania geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar, incluindo terapia comportamental, psicoterapia e tratamento tópico para recuperar os fios perdidos após a tração repetitiva.

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem sido considerada uma das abordagens mais eficazes para ajudar as pessoas a entenderem e controlarem os impulsos de arrancar os cabelos.

No caso de falhas capilares, o dermatologista pode indicar suplementos, medicamentos ou tratamentos como microagulhamento, lasers e infusão de substâncias para estimular o crescimento dos fios.