USP cria teste que detecta câncer em amostras de saliva e urina

Método em fase experimental extrai compostos orgânicos voláteis das amostras

28/03/2023 15:20

Pesquisadores da Faculdade de Ciências Famarcêuticas de Ribeirão Preto (FCRP) da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um teste para diagnosticar o câncer a partir da análise de amostras de saliva e urina.

O trabalho, que rendeu um artigo publicado na revista científica Journal of Breath Research, estuda as possíveis alterações que o câncer provoca em substâncias químicas produzidas naturalmente pelo corpo humano chamadas de compostos orgânicos voláteis (VOCs).

“Em casos de doenças como o câncer, ocorrem alterações metabólicas que podem gerar novos VOCs ou modificar a concentração dos que já estão presentes no organismo. Essas mudanças no perfil podem ser detectadas por meio de análises químicas”, explicou o farmacêutico bioquímico Bruno Ruiz Brandão da Costa, primeiro autor do artigo, em entrevista ao Jornal da USP.

Amostras de urina e saliva podem indicar câncer
Amostras de urina e saliva podem indicar câncer - ElMiguelacho/istock

Dessa forma, o trabalho comparou o perfil dos VOCs presentes no fluido oral e na urina de pessoas saudáveis e de pacientes com câncer.

Com isso, os pesquisadores buscaram identificar se existe uma diferença significativa entre o perfil dessas substâncias nos dois grupos, o que poderia ser útil no diagnóstico da doença. Isso serve para vários tipos de câncer.

A expectativa dos autores do estudo é que o teste possa ser capaz de rastrear a doença ainda em estágio inicial, quando ainda não tem sintomas aparentes.

Os resultados do estuo

O estudo trabalhou com análises de amostras de pacientes com câncer de cabeça e pescoço e câncer gastrointestinal, duas das formas mais comuns da doença.

Os modelos que apresentaram os melhores resultados em termos de sensibilidade e especificidade foram o de câncer de cabeça e pescoço em urina, com 84,8% e 82,3%, e o de câncer gastrointestinal em saliva, com 78,6% e 87,5%.

Os dados indicam, por exemplo, que nosso método foi capaz de classificar 84,8% das amostras de urina de pessoas com câncer de cabeça e pescoço como sendo, de fato, de amostras ‘positivas’. Para um estudo preliminar, isso foi considerado muito bom”, observa o pesquisador.

“O método desenvolvido é simples, mais barato do que aqueles aplicados atualmente. Além disso, um ponto importantíssimo é que a nossa coleta é não invasiva, realizada de maneira rápida e simples, causando o mínimo desconforto possível para o paciente, muito diferente de um exame de sangue ou biópsia, por exemplo.”