Você tem pesadelos frequentes? Isso pode ser o primeiro sinal de uma doença autoimune
Pesquisadores enfatizam que médicos e pacientes devem estar atentos aos sinais não tradicionais, como mudanças no padrão de sono e sonhos perturbadores
Acordar no meio da noite com o coração disparado, suando frio e sentindo que algo terrível aconteceu é mais comum do que se imagina. No entanto, pesquisadores alertam: pesadelos vívidos e perturbadores podem ser muito mais do que apenas sonhos ruins — eles podem ser o primeiro sinal de uma doença autoimune séria, como o lúpus.
Um estudo publicado na revista científica eClinicalMedicine, conduzido por pesquisadores da Universidade de Cambridge e do King’s College London, revelou uma conexão surpreendente entre pesadelos frequentes e o desenvolvimento de doenças autoimunes, especialmente o lúpus eritematoso sistêmico (LES).
Pesadelos podem ser alerta precoce para o lúpus
O estudo analisou dados de 676 pacientes com lúpus, 400 médicos e conduziu entrevistas aprofundadas com 69 pacientes com diversas doenças reumáticas autoimunes sistêmicas, além de 50 médicos especialistas.
Uma das descobertas mais impactantes foi a associação entre sonhos cada vez mais perturbadores e o surgimento de alucinações em pacientes com lúpus. Dos participantes que apresentaram alucinações, 61% relataram ter experimentado pesadelos intensos antes do início dos sintomas neuropsiquiátricos.

Esse padrão foi muito mais forte em pacientes com lúpus do que em outros tipos de doenças autoimunes (onde apenas 34% relataram essa sequência). Assim, os cientistas sugerem que os pesadelos podem ser um sinal de alerta específico para crises de lúpus, algo que pode revolucionar a forma como os médicos fazem o diagnóstico precoce.
Como são os pesadelos associados ao lúpus?
De acordo com os relatos dos pacientes estudados, os pesadelos eram intensos, violentos e altamente perturbadores. Muitos descreveram sonhos em que eram esmagados, perseguidos, atacados ou presos.
Outros compararam suas experiências oníricas a um episódio de “Alice no País das Maravilhas”, relatando desorientação extrema e a sensação de que os limites entre o sonho e a realidade estavam se desfazendo.
Esses sonhos perturbadores muitas vezes antecederam alucinações e outras manifestações graves do lúpus neuropsiquiátrico.
Por que pesadelos podem indicar doenças autoimunes?
A explicação para essa ligação intrigante pode estar na interação complexa entre o sistema imunológico e o cérebro. Nas doenças autoimunes como o lúpus, o próprio sistema imunológico ataca tecidos saudáveis, causando inflamação.
Quando o cérebro é afetado, mesmo em fases iniciais e de maneira sutil, podem ocorrer mudanças no funcionamento neural. Essas alterações podem se manifestar primeiro no sono, causando sonhos mais vívidos e perturbadores.
Portanto, os pesadelos podem ser sinais precoces de alterações inflamatórias no sistema nervoso, indicando que algo mais sério está começando a acontecer.
O que é o lúpus?
O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença autoimune crônica e complexa que pode atingir diversos órgãos e tecidos do corpo, como articulações, pele, rins, cérebro, coração e pulmões.
O sistema imunológico, que deveria proteger contra invasores, passa a atacar as células saudáveis, gerando inflamação generalizada.

Fatores genéticos, hormonais e ambientais são considerados possíveis desencadeadores da doença, embora as causas exatas ainda não sejam totalmente compreendidas.
Sintomas mais comuns do lúpus:
- Fadiga extrema
- Febre persistente
- Dor nas articulações e músculos
- Erupções cutâneas em forma de borboleta no rosto (eritema malar)
- Sensibilidade exagerada à luz solar
- Queda de cabelo
- Úlceras na boca
- Problemas renais
- Distúrbios cardiovasculares
- Alterações neurológicas (como confusão mental, convulsões e alucinações)
Por que este estudo é importante?
Os pesquisadores enfatizam que médicos e pacientes devem estar atentos aos sinais não tradicionais, como mudanças no padrão de sono e sonhos perturbadores, ao monitorar a saúde de pessoas sob risco de doenças autoimunes.
A inclusão de perguntas sobre o sono e a qualidade dos sonhos durante consultas médicas pode ajudar a detectar surtos de lúpus precocemente, possibilitando intervenções mais rápidas e eficazes.
Essa abordagem inovadora pode melhorar o prognóstico dos pacientes e reduzir o impacto da doença em sua qualidade de vida.