Bolsonaro usa violência doméstica para criticar isolamento social

Sem comprovação estatística, o presidente disse que "tem mulher apanhando em casa" por causa da restrição de circulação em meio à pandemia de coronavírus

Bolsonaro ignorou as recomendações da OMS e saiu para dar uma volta neste domingo
Créditos: Reprodução/Twitter
Bolsonaro ignorou as recomendações da OMS e saiu para dar uma volta neste domingo

Sem qualquer comprovação estatística, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou a violência doméstica como justificativa para não haver isolamento social em massa no Brasil em meio à crise do novo coronavírus. Segundo eles, os casos aumentaram porque falta comida na casa das pessoas.

“Tem mulher apanhando em casa. Por que isso? Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Como é que acaba com isso? Tem que trabalhar, meu Deus do céu. É crime trabalhar?”, disse Bolsonaro neste domingo, 29.

Embora a ONU tenha alertado sobre a proteção às mulheres neste período, o presidente utilizou o tema como apelo para defender o isolamento apenas para idosos e tratar dos impactos econômicos da covid-19 no país, doença causada pelo vírus, os quais ele considera “desastrosos”. Em vez de naturalizar a violência, ele deveria divulgar o Disque 180 e as delegacias especializadas. Saiba mais sobre a denúncia aqui.

A declaração foi feita a jornalistas na entrada do Palácio da Alvorada após o presidente para dar uma volta pelo Distrito Federal, em visita ao Hospital das Forças Armadas (HFA) e às cidades-satélite de Taguatinga e Ceilândia. A saída de Bolsonaro contrariou, mais uma vez, as orientações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS) para que as pessoas restrinjam a circulação para conter a pandemia.



Decreto contra isolamento

Nesta mesma ocasião, o presidente declarou que está “com vontade” de editar um decreto nesta segunda-feira, 30, que permite aos profissionais voltarem ao trabalho, apesar das medidas de restrição de circulação tomadas por estados e municípios.

“Eu estou com vontade, não sei se vou fazer, baixar um decreto amanhã: ‘toda e qualquer profissão legalmente, existente, ou aquela que é voltada para a informalidade se for necessária para o sustento dos seus filhos, para levar o leite para seus filhos, arroz e feijão para sua casa, vai poder trabalhar'”, disse.

Ele ainda justificou sua saída neste domingo afirmando que estava trabalhando e que é dever do presidente estar ao lado do povo. “Eu vou para o meio do povo. Quem me critica não vai. Duvido que vá”, reiterou. “O vírus está aí, Vamos ter que enfrentá-lo. Mas enfrentar como homem, pô! Não como moleque, Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida! Todos nós iremos morrer um dia.”

Segundo Bolsonaro, ele foi ao HFA para ver como estava o fluxo de pacientes de coronavírus na unidades, que era “quase inexistente”. No entanto, é importante ressaltar que o local atende apenas militares e o hospital referência em Brasília para tratamento da covid-19 é o Hospital Regional da Asa Norte (HRAN).