Casal trans aguarda chegada de filho e quem está grávido é o pai

"A minha luta contra a transfobia se faz pela visibilidade", afirma a modelo trans e futura mãe, Danna Sultana, nascida na Colômbia

O casal trans Danna Sultana e Esteban Landrau esperam ansiosos pelo bebê
Créditos: Arquivo Pessoal
O casal trans Danna Sultana e Esteban Landrau esperam ansiosos pelo bebê

“A minha luta contra a transfobia se faz pela visibilidade”, afirma a modelo trans Danna Sultana, 36, em entrevista à Catraca Livre. Nascida em Medellín, na Colômbia, ela, que também é bailarina e atriz, aguarda pela chegada de seu primeiro filho, Ariel, gestado pelo noivo, o personal trainer Esteban Landrau, 32, um homem trans.

Isolados em Bayamón, Porto Rico, por causa da pandemia do novo coronavírus, Danna e Esteban compartilham nas redes sociais cada fase da gravidez, já aos oito meses. E a reação do público não poderia ser melhor, segundo relata a modelo e futura mãe. “Tivemos uma resposta muito positiva porque motivamos outras pessoas a não sentirem medo de ser trans”, conta.

A relação do casal teve início em 2019 e, de acordo com ela, o ponto alto do amor dos dois é o fato de terem muitas coisas em comum, como o desejo de começar uma família. Por isso, após se conhecerem, em Miami, nos Estados Unidos, decidiram parar com o tratamento hormonal para Esteban conseguir engravidar.

“Eu sou uma mulher trans, meu noivo é um homem trans. Por acaso, nos conhecemos e, a partir desse momento, soubemos que deveríamos ficar juntos. Agora, queremos ampliar a família e temos a oportunidade de fazer isso naturalmente, sabemos que é um caminho difícil em nível social, mas estamos juntos, nos amamos e é o amor que nos guia a educar nossos futuros filhos”, escreveu a colombiana.

Sobre a gravidez de Esteban, natural de Porto Rico, Danna afirma que foi bastante tranquila, sem enjoos e desejos. “O nosso bebê, Ariel, será criado como cisgênero”, enfatiza. — pessoas que se identificam com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer são consideradas cisgênero ou cis, na abreviação.

Saiba mais sobre a gestação do homem trans no vídeo abaixo:

Transição de gênero e carreira

De acordo com Danna Sultana, sua transição para o gênero feminino começou em 2005, aos 21 anos, no momento em que decidiu alterar seu nome na carteira de identidade. “Sabia o quanto isso seria difícil devido à desinformação da sociedade”, lembra.

À época, em 2005, ela saiu da casa de sua família e mudou-se para Bogotá. Embora tenha crescido com o apoio e o amor da família, sua identificação como mulher trans em um ambiente conservador a fez tomar a decisão de deixar sua cidade e buscar oportunidades de se desenvolver artisticamente.

A carreira da modelo ganhou notoriedade nacionalmente após participar de um famoso reality show na capital, em 2012. Embora tenha sido muito bem aceita pelo público e reconhecida como a primeira pessoa trans a participar de um programa desse tipo, a modelo decidiu deixar o país porque não se sentia protegida. “A Colômbia não se preocupa com os transexuais”, explica.

Depois de várias participações em produções da TV colombiana, Sultana queria continuar crescendo como artista e embarcou para Buenos Aires, na Argentina, atraída pela ampla oferta cultural e pela maior aceitação da comunidade LGBT no país.

Algum tempo depois, voltou à Colômbia para trabalhar na televisão e, assim, surgiu a oportunidade de atuar como artista em clubes de Miami e Nova York, cidade onde vivia até antes da pandemia.

Quer saber mais e acompanhar o trabalho e a vida da artista? Veja o site e o Instagram de Danna!

O casal trans vai criar a criança como cisgênero, segundo a modelo
Créditos: Arquivo Pessoal
O casal trans vai criar a criança como cisgênero, segundo a modelo

Transfobia NÃO!

Após perceber-se com um gênero diferente do que lhe foi atribuído ao nascer, uma pessoa transgênero passa a enfrentar uma verdadeira luta para viver sua identidade. Especialmente no Brasil, onde casos de transfobia são recorde mundial.

Apesar de transfobia e homofobia não serem a mesma coisa – um diz respeito à violência contra a identidade de gênero e o outro à orientação sexual – a criminalização da homofobia pelo STF, em junho de 2019, se estende a toda comunidade LGBT e também equipara atos transfóbicos ao crime de racismo. Nesta matéria aqui, explicamos como denunciar esse tipo de crime.