Lula: “Bolsonaro só venceu porque não concorreu contra mim”

Em primeira entrevista desde a prisão, ex-presidente credita vitória de Bolsonaro à condenação do juiz Sérgio Moro: "fez política e não justiça"

06/12/2018 18:33

Na primeira entrevista desde que foi preso em abril de 2018, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse à emissora britânica BBC que sua prisão não teve outra motivação que não fosse barrar sua vitória nas urnas.

Por meio de cartas, Lula ressaltou que, ao ser condenado, o juiz Sérgio Moro “fez política e não justiça”, referindo-se à vitória de Jair Bolsonaro (PSL) nas eleições de outubro.

Dois meses antes da eleição, o petista teve sua candidatura barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com base na Lei da Ficha Limpa. Na época, Lula tinha vantagem de 20 pontos percentuais sobre Bolsonaro nas pesquisa de opinião.

Apoiadores de Lula acampados na Vigília Lula Livre, em frente à superintendência da Polícia Federal, em Curitiba (PR)
Apoiadores de Lula acampados na Vigília Lula Livre, em frente à superintendência da Polícia Federal, em Curitiba (PR)

Com a prisão de Lula, o Partido dos Trabalhadores foi obrigado a escolher o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para a disputa. A definição aconteceu no dia 11 de setembro, a menos de um mês para a eleição. O desafio, ali, era igualar o reconhecimento do nome de Lula no novo cenário político.

Apesar disso, ao fim do primeiro turno, o candidato da extrema direita somou 46% dos votos válidos contra 29% do petista. Menos de um mês depois, Bolsonaro selaria a vitória nas eleições, tornando-se o 38º presidente do Brasil com 55% dos votos.

Proibido de dar entrevistas, presenciais ou por telefone, Lula respondeu a perguntas feitas pelo jornalista brasileiro Kennedy Alencar para um documentário da BBC TV via cartas. Em dos trechos da conversa, Lula enfatizou:  “Bolsonaro só venceu porque não concorreu contra mim”.

 “Fui condenado por ser o presidente de maior sucesso da República”

Comentou sobre o viés político de sua prisão ao lembrar que, quando deixou a presidência, em janeiro de 2011, bateu recorde de aprovação em quase oito anos de governo, quando teve apoio de 83% da população. “Fui condenado por ser o presidente de maior sucesso da República e o que mais fez pelos pobres”.

Reiterou sua inocência ao condenar a nomeação de Sérgio Moro para o posto de ministro da Justiça, a convite de Jair Bolsonaro. “[O juiz] Moro sabia que, se agisse de acordo com a lei, teria que absolver-me e eu seria eleito presidente(…) então ele fez política e não justiça, colhendo agora os benefícios”. Dois anos antes, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Moro descartou qualquer aproximação com a política. “Não, jamais. Jamais. Sou um homem de Justiça e, sem qualquer demérito, não sou um homem da política”.

Em outro trecho das cartas, Lula reafirma sua inocência, alegando estar preso sem motivo. Adverte colegas brasileiros ao lembrar que seus direitos estão sob ameaça. “Se isso pode ser feito para um ex-presidente”.

O ex-presidente se entregou à polícia em abril e foi mantido em uma cela na sede da polícia federal em Curitiba desde então. Foi condenado a 12 anos e um mês de prisão.

O conteúdo da conversa integrará um documentário da BBC dividido em três partes, intitulado: “O que aconteceu com o Brasil”, a ser lançado em janeiro de 2019.