Mães contam como conciliam maternidade e vida profissional
Nas redes sociais, elas relatam as doçuras e amarguras da experiência
Se há alguns anos se falava em dupla jornada (ou tripla) das mulheres, a pandemia conseguiu misturar tudo e transformou isso em uma única, árdua e longa jornada, principalmente para as mães. Com ou sem ajuda, elas precisaram reinventar a rotina e contam como conciliar a maternidade e a vida profissional no LinkedIn.
“Eu aconselho sempre a criar uma rede de apoio com a empresa, seja por meio do seu time, com sua liderança e liderados, é preciso naturalizar a maternidade no ambiente de trabalho”, contou Luara Canobre, gerente de negócios da Squid e mãe de Valentina, de 1 ano.
“Dessa forma, vamos criando, mesmo que aos poucos, uma nova cultura com profissionais mais empáticos e mudando aos poucos o mercado de trabalho.”
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Rayssa Fonseca, coordenadora de marketing e mãe das gêmeas Lis e Maitê, de dois anos, completa que existe a necessidade de companheirismo nos afazeres domésticos.
“No trabalho, por meio de uma cultura de empatia com a liderança e o time. Já em casa, a grande parceria com meu marido para assumirmos prioridades e nos organizarmos diante de tantos compromissos e uma agenda farta”, disse.
A analista Vitória Cyrillo Favarin, contratada recentemente em período de gestação, relatou que a maternidade traz novas perspectivas e ensinamentos.
“Ser mãe de primeira viagem é o maior desafio que estou lidando até hoje”, revelou. “Existem muitas inseguranças, mas, ao mesmo tempo, é o meu maior sonho.”
Para entender os desafios dessa relação, a Catraca Livre conversou com as três neste Dia das Mães.
Catraca Livre – Como foi o trabalho durante a pandemia? Como gerenciar um imprevisto profissional com uma tarefa prioritária da maternidade?
Luara – Eu engravidei, tive a Valentina e mudei de emprego, tudo isso em meio à pandemia. Entre os 4 e os 10 meses eu trabalhava em modelo home office e há 1 ano e 1 mês não coloco mais os dois fones no ouvido ao mesmo tempo, pois parte de mim está focada nas inúmeras reuniões de trabalho e a outra está atenta ao que a neném está fazendo. Para que seja possível gerenciar imprevistos da dupla jornada da melhor forma, eu acredito que a transparência e a comunicação são as melhores ferramentas atreladas a uma boa rede de apoio, e aqui não me refiro apenas a rede pessoal mas principalmente a profissional. Eu sempre comunico à empresa e ao meu time que se surgir algum imprevisto com a Valentina irei reorganizar minha agenda para atendê-la. Da mesma forma que também converso com meu marido sobre os eventos importantes nos quais vou precisar estar 100% dedicada. Comunicar as atividades é essencial para que todos estejam de acordo com as possíveis mudanças de agenda.
Rayssa – Minhas bebês nasceram em março de 2020, no mês em que a pandemia se alastrou pelo país e iniciamos o primeiro lockdown da nossa história. Além dos desafios da maternidade gemelar, surgiu o desafio de uma quarentena, seguida da primeira experiência de home office com duas filhas e sem rede de apoio, devido aos riscos da covid. Foi extremamente desafiador. Os imprevistos da vida de uma mulher, mãe e líder são gerenciados por meio de uma grande rede de comunicação, tanto na empresa quanto em casa. No trabalho, por meio de uma cultura de empatia com a liderança e o time, já em casa, a grande parceria com meu marido para assumirmos prioridades e nos organizarmos diante de tantos compromissos e uma agenda farta. Comunicação e empatia.
E para você, Vitória, como é gerenciar a gestação e as tarefas profissionais? Como tem se planejado?
Vitória – É preciso criar um equilíbrio nas duas rotinas e fazer com que elas conversem e se conectem nas pequenas coisas. A alimentação por exemplo é um dos pontos que mais sinto diferença nesse começo de gestação, preciso possuir sempre alguma fruta ou algum alimento por perto, assim no meio das reuniões diárias eu consigo ficar sempre alimentada sem precisar esperar longos intervalos de tempo. Estar em uma empresa que entenda a quantidade de médicos, a oscilação de humor é essencial na programação diária, por isso é importante montar uma agenda organizada e comunicar toda sua rotina. A segurança da criança e da mãe está alinhada com o trabalho, por isso é preciso ter muito apoio e compreensão dos dois lados.
Há comentários negativos sobre a maternidade junto com a liderança? Como lidar com esses comentários?
Rayssa – No emprego, nenhum! Pelo contrário, sempre recebo apoio da minha liderança em relação à maternidade, especialmente por se tratar de gêmeas, o que torna esse desafio um pouco maior. Na vida pessoal a crítica é constante, mas ela vem velada e nas entrelinhas, desde olhares de julgamento a comentários aparentemente inofensivos, mas carregados de machismo estrutural e, infelizmente, propagado até por outras mulheres.
Luara – Como mãe recebi algumas críticas em relação ao tempo que optei para retornar ao trabalho encurtando minha licença maternidade. Muitos diziam que eu poderia ficar mais tempo de licença e muitas vezes essas críticas acabam vindo do próprio ambiente familiar. O problema é que estando em casa, existe um grande receio em toda mãe em período de licença-maternidade que é o de ficar desatualizada no mercado de trabalho, diminuindo mais ainda nossas opções. Além disso, a sociedade nos segmenta neste período para que todas as atividades externas que optamos fazer fora do trabalho sejam somente ficar com os filhos, como se precisássemos ser vistas 100% cuidando deles sem direito a outras atividades individuais.
Vitória – Com certeza existem, acredito que o principal e mais dolorido seja a cobrança e o julgamento da mãe por querer se dividir entre a maternidade e a carreira. Infelizmente a palavra “empatia” ainda falha muito na prática. Como eu lido? Mostrando que posso sim dar conta, que sou confiável, responsável, capaz. Antes mesmo do nascimento parece que nós mães, já nos sentimos invencíveis. Antes de enfrentar qualquer desafio o primeiro que existe uma vida se desenvolvendo dentro de mim, semanalmente é uma força que simboliza uma grande conquista para nós dois.
É possível manter a calma em situações difíceis que coloquem a maternidade em conflito com a profissão? Como?
Rayssa – Sim, é possível, apesar de não ser nada simples! Uma grande alternativa que encontrei foi em exercer uma maternidade respeitosa e neuro compatível por meio de muitos estudos sobre o assunto. A busca por um ponto de equilíbrio para exercer a maternidade da forma mais leve possível – aceitando erros e acertos – é um caminho para estas situações na conciliação da vida profissional e pessoal.
Luara – É possível, mas não é tarefa simples. A primeira vez que me vi em conflito entre carreira e maternidade foi quando recebi o convite para trabalhar em meio à minha licença maternidade. Eu teria mais 3 meses de licença pelo meu antigo emprego, mas estava super interessada em assumir o novo desafio, que na época, seria para gerenciar um time de mais de 20 pessoas e 170 projetos.
Se eu não tivesse uma neném com certeza teria aceitado logo que recebi a ligação da proposta, mas precisei desenvolver minha rede de apoio. A coragem é um um fator decisivo quando você se torna mãe pois na verdade não temos certeza de nada, e a coragem nos move para enfrentar as situações e fazer inúmeras escolhas com base no que a gente acredita. Por isso, é possível, mas não fácil, a rede de apoio é fundamental para a segurança, vindo tanto da empresa quanto da família.
Vitória, qual é a sua perspectiva de trabalho como futura mãe?
Vitória – Depois de ter sido contratada grávida, tenho lido bastante sobre o assunto e visto como esse movimento é extremamente raro de acontecer no mercado, como muitas mães ainda em gestação não conseguem esta oportunidade. A minha perspectiva é de continuar tendo qualidade de vida entre a maternidade e a carreira e crescer profissionalmente. Como comentei anteriormente, acredito que a segurança do bebê está alinhada com o emprego da mãe, então sinto que estou em uma empresa extremamente atualizada e conectada com o mundo de hoje em dia e que deva ser exemplo para as demais.