Mapa monitora avanço da pandemia de covid-19 em terras indígenas
O total de indígenas com o novo coronavírus em área rural chegou a 23, com três mortes
O avanço da pandemia do novo coronavírus no Brasil trouxe consequências ainda mais graves a povos que não foram contemplados por políticas públicas: os indígenas. Até a publicação desta reportagem, o total de indígenas com a covid-19 em área rural chegava a 23, com três mortes, entre eles, a de um adolescente de 15 anos em Roraima. Os dados foram reunidos em um mapa criado pelo Instituto Socioambiental (ISA).
A proposta da plataforma é monitorar o avanço da pandemia nas terras indígenas e municípios próximos a elas. No site “Covid-19 e os Povos Indígenas”, a organização reuniu as principais bases de dados sobre a doença e a estrutura de saúde no Brasil de forma georreferenciada, dispostas em um mapa.
O site indica casos confirmados e mortes causadas pela covid-19 em todo o Brasil, com destaque para os números específicos entre povos indígenas. Além disso, mostra a cobertura geográfica dos distritos sanitários especiais indígenas e polos base, e a disponibilidade de leitos e respiradores em todos os municípios brasileiros.
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O projeto também apresenta uma linha do tempo com o histórico de epidemias que atingiram as populações indígenas desde a invasão do Brasil pelos portugueses, em 1500. Por fim, reúne as notícias e uma lista de iniciativas de apoio às aldeias e comunidades quilombolas e ribeirinhas durante a pandemia.
“As vulnerabilidades dos povos indígenas reforçam a necessidade de ações emergenciais dos órgãos e entes públicos, como a Secretaria Especial de Saúde Indígena, União, Estados e Municípios, de forma complementar, coordenada e integrada, sobretudo na prevenção da disseminação da doença entre os povos indígenas, mas também na garantia do pleno atendimento, evitando a ocorrência de ‘pontos cegos’ e a evolução dos casos eventualmente constatados decorrente da demora no atendimento”, afirma Antonio Oviedo, pesquisador do ISA.
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Indígenas e covid-19
Os indígenas no Brasil precisam de uma atenção especial por parte dos governos nesse momento de pandemia. Políticas públicas de combate à covid-19 devem ser adaptadas à realidade desses povos, nas aldeias e nas cidades.
A principal estratégia da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) é impedir a circulação entre cidades e aldeias. A entrada de não indígenas em terras indígenas está restrita apenas a viagens essenciais relacionadas com saúde e alimentação. Indígenas que estavam na cidade foram orientados a permanecer ali ou realizar quarentena fora das aldeias antes de retornar para suas comunidades.
Em muitas regiões, povos estão submetidos a uma situação de vulnerabilidade social e econômica, e sofrem com a dificuldade logística de comunicação e de acesso aos territórios. Tudo isso agrava o risco de mortalidade entre os indígenas.
Viroses respiratórias foram vetores do genocídio indígena em diversos momentos da história do país, com dezenas de casos provocados por epidemias registrados em documentos oficiais, como o relatório da Comissão Nacional da Verdade de 2014 e o relatório Figueiredo de 1967.
A ideia do mapa lançado pelo ISA é dar transparência para informações sobre o novo coronavírus, apoiar a tomada de decisão dos órgãos públicos encarregados das ações emergenciais e informar a sociedade brasileiras sobre os riscos específicos enfrentados pelos povos da floresta com a pandemia do coronavírus.