Padre Julio Lancellotti cria petição para ajudar moradores de rua

Em meio à pandemia do novo coronavírus, padre ofereceu acolhimento a moradores de rua com suspeita de coronavírus

Padre abriu abaixo-assinado para proteger moradores de rua durante a pandemia
Créditos: Reprodução / Facebook
Padre abriu abaixo-assinado para proteger moradores de rua durante a pandemia

“Todos dizem: ‘Fiquem em suas casas’, ‘Lavem as mãos de duas em duas horas’, ‘Usem álcool gel’, mas onde é a casa do morador de rua? Como é que ele vai fazer a higiene recomendada se ainda tem dificuldade de acesso à água potável e à alimentação? Algumas pessoas estão de quarentena, outras trabalhando em seus lares, mas as pessoas que estão debaixo dos viadutos, nas ruas e praças não tem como se proteger”.

A fala acima foi retirada de um ​abaixo-assinado criado pelo Padre Julio Lancelloti para pressionar a Prefeitura de São Paulo a fornecer kits com álcool gel e materiais básicos de higiene e a abrir espaços públicos para o acolhimento de moradores de rua durante a pandemia do coronavírus. Criada nesta quarta-feira, 18, a petição hospedada na plataforma Change.org já sensibilizou quase 16 mil apoiadores em menos de dois dias.

Julio Lancelloti, padre há mais de 34 anos, é coordenador da Pastoral Povo da Rua e possui forte atuação em defesa das pessoas marginalizadas, especialmente na região centro-leste da capital paulista, onde fica sua comunidade. Por seu “ativismo” nos direitos humanos, o padre sofre constantemente ameaças da polícia e ataques nas redes sociais.

Nos últimos dias, Lancellotti começou a pedir no Instagram doação de álcool gel e de materiais de higiene aos moradores de rua acolhidos em sua paróquia, até que decidiu criar um meio mais efetivo para cobrar diretamente as autoridades: um abaixo-assinado. Na petição, ele pressiona, além da Prefeitura, as secretarias municipais de saúde, da Assistência e Desenvolvimento Social e de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo.



“A cidade de São Paulo tem, segundo o último Censo, mais de 24 mil pessoas morando nas ruas. Desse total, 17% está na faixa etária de maior vulnerabilidade e mais de 50% não está em centros de acolhida, e algumas possuem doenças crônicas ou pré-existentes, como a tuberculose. O que será dessa população e de toda a cidade durante a pandemia do coronavírus?”, questiona o padre Lancellotti no texto da petição online.

No manifesto, Lancellotti ainda pondera que a adoção dessas medidas, por parte da Prefeitura, é essencial para evitar um surto ainda maior da pandemia na cidade de São Paulo, que concentra a maioria dos casos de Covid-19 no Brasil. De acordo com balanço divulgado nesta quarta-feira (18), a capital concentrava 214 do total de 240 casos da doença no Estado. Além de destacar a importância dessas ações, o padre enfatiza que a proteção aos moradores de rua foi uma recomendação de um grupo de trabalho da Defensoria Pública da União.

“Mesmo sob constante ameaça do braço armado do Estado e daqueles que não toleram os ‘descartados’, sigo nessa luta. Agora, peço o seu apoio para assinar essa petição e fazer com que a Prefeitura faça sua parte”, clama o padre no manifesto. “Que o medo não afaste ninguém, especialmente neste momento em que os moradores de rua mais precisam de alguém que os olhe”, finaliza. Confira a petição: ​http://change.org/PovoDeRuaSemCorona.

A “Casa de Oração do Povo da Rua”, na região central da Capital, foi aberta pelo padre e pela Arquidiocese de São Paulo para abrigar moradores de rua com suspeita de infecção pelo coronavírus e com necessidade de quarentena. Segundo Lancellotti, o espaço deve ter capacidade para isolar até 50 pessoas, porém, há a necessidade de a Prefeitura fornecer materiais básicos para higiene, água potável, alimentação e acompanhamento de saúde a elas.