Pai de menino que sofreu racismo no RJ desabafa: ‘é inaceitável’

Imagine a seguinte cena: pai e filho estão no supermercado fazendo compras. Enquanto o pai passa os produtos no caixa, o filho pede um chocolate. O produto está sem preço, e o pai pede para a criança procurar saber, enquanto termina de passar as compras. A criança percorre o supermercado em busca de uma máquina de preços e é abordada por um segurança. Agora reflita: essa criança é branca ou negra?

A resposta pode revelar o racismo enraizado em nossa sociedade, que perpetua a discriminação baseada apenas na cor da pele de um sujeito.

A cena descrita acima aconteceu com o educador Andre Couto, em um estabelecimento no bairro de Rio de Janeiro. O filho Everton, de apenas doze anos, foi considerado suspeito pelos seguranças do local e segundo o pai, abordado de forma racista e arbitrária.

“Quando me virei meu filho estava sendo abordado por um segurança da loja, tomando da mão dele o chocolate e pedindo para ele sair da loja, dando tapinhas nas costas dele para se apressar. Ao ver a cena pedi explicações e o tal segurança me disse que “alguém” o havia alertado acerca do comportamento do meu filho, a saber: um menino segurando um chocolate perto da fila dos caixas. O que havia de suspeito, errado ou ameaçador nesse comportamento? Rigorosamente nada. Por alguma razão, o segurança se sentiu autorizado em abordar o Meu Filho sem, ao menos, verificar se ele estava ou não acompanhado. Aliás, nada estaria errado caso ele estivesse sozinho”, conta Andre na publicação em seu Facebook.

Pai e filho faziam compras em um supermercado no Rio de Janeiro quando foram discriminados.

O pai conta que quando os funcionários do local perceberam que o menino era seu filho, imediatamente se desculparam, mas afirma que um ato de racismo como este não é passível de ser desculpado.

“Repito aqui o que disse em alto e bom som na loja: não desculpo. Não desculpo porque eu vi o olhar de susto do Meu Filho. Não desculpo porque estou farto das inferências e dos olhares persecutórios. Não desculpo porque essa cena agora faz parte da memória do Meu Filho. Não desculpo porque o Meu Filho vendo o meu rosto transtornado me pediu desculpas como se ele tivesse feito algo errado. O que aconteceu hoje não é outra coisa senão mais um evento para a minha coleção de atos de racismo sofridos num país que gosta de se olhar no espelho e ver refletido uma democracia racial.”

O menino foi adotado há 18 meses pelo educador, de 38 anos. No texto, Andre compartilha sua angústia de não conseguir proteger o filho dos preconceitos do mundo, um sentimento comum a muitos pais de crianças negras, que se veem obrigados a lutar minuto a minuto pelo direito de ser de seus filhos.

“Não fosse por esse fato, provavelmente já teríamos passado por isso antes. Há muitas intenções nesta mensagem, mas a principal é dizer algo que me dói terrivelmente: quem pede desculpas sou eu. Desculpas, Meu filho, não consegui te proteger tal como eu gostaria. Papai te ama.” Clique aqui para ler o relato do pai na íntegra.

Leia mais: