Pantanal em chamas: mobilizações online cobram ação dos governos
Na internet, sociedade se une em abaixo-assinados para pressionar medidas que ajudem a preservar a maior área úmida continental do planeta
Seca histórica, recorde de queimadas, mudanças climáticas e degradação de biomas interligados. A combinação tem levado o Pantanal, maior área úmida continental do planeta, a um estado preocupante. Estatísticas confirmam que a apreensão não é à toa: agosto é o mês em que o território mais sofre em chamas nas duas últimas décadas. As cenas que retratam esse cenário vem provocando reação entre os brasileiros, que cobram medidas urgentes.
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Parte dessa pressão popular acontece na internet, por meio de abaixo-assinados online. Nas últimas semanas, diversas mobilizações sobre o tema começaram a se formar na plataforma de petições Change.org. As quatro maiores, criadas por cidadãos de diferentes regiões do país, engajam juntas mais de 73 mil pessoas pedindo socorro pelo Pantanal.
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“A queimada anual é cíclica, mas cada vez mais se eleva, até consumir toda a parte que restou! Ajude, assinando este abaixo-assinado para que possamos ter visibilidade nacional e da própria cúpula executiva. Onde estão eles?”, questiona a maior das campanhas. No debate sobre culpas e responsabilidades, a atuação governamental tem sido posta em xeque.
Queimadas no Pantanal: entenda o tamanho da devastação do bioma
A principal crítica que especialistas ambientais fazem em geral sobre as políticas públicas é que os órgãos de fiscalização têm sofrido um processo de desmantelamento, ao passo em que o desmatamento ilegal avança descontroladamente em todos os biomas. Como resultado, o desequilíbrio do ecossistema causa severos impactos na área do Pantanal.
“O mundo vive hoje um cenário ambiental sem precedentes. O Brasil não se exclui disso, com sua política bárbara de proteção à maior planície alagada do mundo e à própria Amazônia”, protesta trecho da petição que cobra providências do Ministério do Meio Ambiente diante da situação de crise não só no Pantanal e na Amazônia, mas também no Cerrado.
Biomas em alerta
De acordo com números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Pantanal registrou em julho 1.684 pontos de queimadas. O índice é o mais alto desde que o instituto começou a medir o dado – no ano de 1998. Em comparação com o mesmo mês do ano passado, quando foram verificados 494 focos, o aumento dos incêndios foi de 240%.
Dados compilados até meados de agosto já indicam novos recordes trágicos relacionados aos incêndios no território. Desde o início do ano, as queimadas já atingiram pelo menos 17,5 mil quilômetros quadrados do Pantanal, o que representa mais de 10% da área total do bioma, que é de 150 mil km², estendendo-se pela Bolívia e Paraguai.
Imagens da região em chamas repercutem desde o mês passado pelo país, como as que mostraram o céu de cidades da região centro-oeste do Brasil tomado pela fumaça. Outras cenas que chamam atenção sobre a situação da área exibem importantes espécies da fauna pantaneira – como jacarés e sucuris – mortas em decorrência das queimadas.
O longo período de seca tem reduzido as periódicas inundações do bioma. Além disso, de acordo com ambientalistas, o desmatamento recorde na Floresta Amazônica e os incêndios que também atingem o Cerrado brasileiro impactam no Pantanal.
No foco das atenções mundiais desde o ano passado, a Amazônia teve 9,2 mil km² devastados num período de 12 meses. A estatística refere-se ao período de agosto de 2019 a julho de 2020, comparado com o mesmo intervalo de 2018 a 2019. A medição é feita pelo sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe.
Já no Cerrado, que é reconhecido como a savana mais biodiversa do mundo e considerado a “caixa d’água do Brasil” por abrigar oito das 12 regiões hidrográficas do país, foram identificados 4.821 pontos de calor, apenas entre os dias 1º e 17 deste mês.
Operação Pantanal
Por trás da devastação ilegal dos biomas brasileiros, ambientalistas e ativistas da causa apontam o expansão do agronegócio nessas regiões como uma das problemáticas principais para o desequilíbrio do ecossistema, ao lado de uma fiscalização deficiente por parte dos órgãos governamentais. Pastagens para a criação de gado avançam nessas áreas.
No dia 25 de julho, as Forças Armadas começaram a atuar no combate a incêndios no Pantanal sul-mato-grossense. Em 5 de agosto, as ações foram estendidas ao Pantanal mato-grossense. Por meio da “Operação Pantanal”, brigadistas em helicópteros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica despejam água, durante os sobrevoos, para conter as chamas.
Em nota publicada em seu portal oficial, o Ministério da Defesa informa que as ações seguem na região. “O Ministério da Defesa, por meio das Forças Armadas, prosseguiu no combate a focos de incêndio que atingem o Pantanal de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso”, diz o comunicado. “Na quarta-feira (19), as ações ocorreram no combate a três áreas de focos de incêndio no município de Poconé (MT), nas seguintes regiões: Corixão (01), Colônia Pesqueiro do Beição (01) e Fazenda Pantanal Mato Grosso (01)”, completa o informe.
O governo federal também editou, no final mês passado, um decreto (nº 10.424) que proíbe queimadas em todo o território brasileiro por um prazo de 120 dias.
O abaixo-assinado online que faz pressão por mais medidas e ações efetivas das autoridades segue aberto e reunindo apoiadores por meio da plataforma Change.org.