Prefeitura de Salvador anuncia Réveillon só com artistas brancos
Ivete Sangalo e Gusttavo Lima comandam show que será exibido online e pela TV na virada do ano
Salvador não faz show da virada no Réveillon e, sim, um festival inteiro de cinco dias. Em 2020, o festival dará lugar a uma live que será transmitida na TV por Globo, Bandeirantes e Multishow. Os artistas que vão representar Salvador, cidade em que cerca de 80% das pessoas se declaram negras, são os cantores Ivete Sangalo e Gusttavo Lima. “A ideia é que na hora da virada façam a contagem regressiva juntos. Os dois artistas mais comerciais do país. A gente vai oferecer o melhor conteúdo do Brasil”, disse o prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães (ACM) Neto, na divulgação do evento.
O show começa às 22h de 31 de dezembro e vai até 2h da manhã do dia 1º. No ano em que as pautas antirracistas emergem e que os movimentos de valorização da cultura negra ganharam força, ACM Neto, que se despede da prefeitura após oito anos de mandato, ignora os artistas negros da Bahia. A lista é enorme e crescente. Podemos citar Carlinhos Brown, Baiana System, Margareth Menezes, Attooxxa, Leo Santana, Larissa Luz, Mariene de Castro, Luedji Luna, Xênia França, Gilberto Gil, Harmonia do Samba, Psirico, entre tantos outros. Além, dos blocos afros Olodum, Ilê Aiyê, Didá, Muzenza, Malê de Balê, Filhos do Congo, que a cada ano resistem e precisam lembrar da sua importância para que recebam algum recurso público que incentive a sua existência.
Ivete foi questionada em uma live com Taís Araújo neste ano do porquê artistas negros como Maragareth Menezes não ganharem o mesmo destaque que ela na música. Na ocasião, ela disse que todos gostariam de saber esse porquê. Mas a cantora não recua e abre espaço (cede seu privilégio) em momentos como esse. Poderia fazer o papel de, pelo menos, tentar incluir apresentações conjuntas (feats) com novos talentos como Majur, Hiran, Nêssa, entre outros, além dos já citados blocos afros.
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Em 2019, a prefeitura de Salvador tinha cometido o mesmo “erro” ou polícia institucional construída no racismo estrutural que alicerça a sociedade brasileira. ACM Neto foi a São Paulo anunciar o verão e o festival da virada, que incluía 300 artistas. Poucos negros e sem a presença dos blocos afros. O Guia Negro fez matéria e depois da repercussão, a prefeitura voltou atrás e incluiu apresentações de Ilê Aiyê, Olodum, Nêssa, entre outros.
ACM Neto precisa entender a importância, a necessidade e a urgência de ter artistas negros que representam a Bahia em eventos como esse. E seu sucessor, Bruno Reis, que foi eleito no último 15 de novembro, tem que aprender que não dá mais para ignorar a cultura e história negra da cidade mais preta do Brasil. O que está em pauta é: respeito e uso adequado de verba pública para políticas públicas que corrijam as distorções históricas e que, de fato, sejam antirracistas.