Torcedor gay do Palmeiras recebe ameaças de morte e agressão
Nos estádios ao redor do Brasil, infelizmente, não é incomum ouvir gritos com provocação homofóbica entre torcedores de times rivais. Termos como “bicha” e “viado” são cantados em tom ofensivo e tornam o universo do futebol um ambiente hostil para o público LGBT.
O jornalista William De Lucca, de 32 anos, torcedor fervoroso do Palmeiras, escreveu um tuíte em que criticava os xingamentos homofóbicos direcionados ao time rival do verdão, o São Paulo, em ocasião da partida no Allianz Parque na última quinta-feira, 8.
A torcida do Palmeiras, em sua homofobia típica, canta que 'todo viado nessa terra é tricolor'.
Parece que encontrei uma exceção a regra: eu mesmo, viado e palmeirense, e que cola no estádio em TODOS os jogos. pic.twitter.com/2ZcDymrK3x
— William De Lucca (@delucca) March 9, 2018
A publicação ganhou repercussão e William começou a receber mensagens de ódio pelas redes sociais dos próprios torcedores do Palmeiras, contendo ameaças de morte e agressão física:
https://twitter.com/delucca/status/972233453205934081
Só para exemplificar com o que eu estou lidando desde que meu tuite ganhou destaque. pic.twitter.com/IhWFGA6x0a
— William De Lucca (@delucca) March 9, 2018
“E eu não me calo ante a homofobia, seja de uma ou de 40 mil pessoas, porque a gente já se calou por muito tempo. A gente vai em estádios desde de sempre, e sempre calados. Precisamos falar sobre isso”, disse ele em entrevista ao UOL. “Espero que os outros palmeirenses gays que vão a estádios também levantem sua voz”, completou.
Apesar disso, o torcedor comentou que a reação positiva foi maior. “Muitos palmeirenses me convidando para ir com eles no jogo, sentar no mesmo setor do estádio, apoio de torcedores de outros times do Brasil… Teve um dirigente da Portuguesa que veio me procurar, falar que já aconteceu no estádio. Muita gente já se sentiu desse jeito, já passou por isso, e agora vai falar”, afirmou ao SportTV.
Peço desculpas a parte da torcida do Palmeiras que se sentiu incluída no meu comentário mesmo sem ser homofóbica. Sei que temos muitos progressistas entre nós e muitos palmeirenses foram solidários e carinhosos para comigo depois da repercussão do post.
— William De Lucca (@delucca) March 10, 2018
https://twitter.com/delucca/status/972535545724272641
Em 2010, William tuitou a frase “Chupa, Bambi”, que vem sendo usada por muitos dos ameaçadores para atacá-lo. “A gente tem sorte de poder melhorar com o tempo. Eu sou gay, mas nasci em uma sociedade extremamente homofóbica e heteronormativa. Eu aprendi que ser gay é errado e que usar isso como ofensa é aceitável. Eu tive a chance de, com o tempo , chegar a outro nível de percepção. Eu estava errado naquela época”, explicou ele, assumindo.
Esses tuítes antigos são parte de quem eu fui, e estão lá pra me lembrar onde eu já estive e para onde tenho de ir. Eles servem pra mostrar que o caminho da desconstrução de cada um de nós é árduo, lento e gradual. Mas é possível.
— William De Lucca (@delucca) March 10, 2018
Junto com amigos palmeirenses, o jornalista é hoje administrador do coletivo Palmeiras Livre, cuja missão é levantar pautas como homofobia, racismo, machismo e xenofobia dentro do futebol.
A reportagem da Band entrou em contato com representantes da Mancha Alviverde, que preferiu não se declarar sobre o caso. A torcida organizada alegou que não é responsável por puxar os gritos e não respondeu se pretende fazer algum tipo de ação contra a homofobia.
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