Vencedor do Jabuti, escritor democratiza literatura nos morros do RJ

Nascido e criado na favela do Caracol, João Otávio recebeu o prêmio Jabuti de literatura infantil com o livro "Da Minha Janela"

O dia 27 de novembro de 2020 não seria só mais uma sexta-feira comum na vida de João Otávio, escritor nascido e criado na Favela do Caracol, Complexo da Penha, no Rio de Janeiro. Autor do livro “Da Minha Janela”, levaria para a casa a estatueta do Prêmio Jabuti, o mais cobiçado reconhecimento da literatura nacional, na categoria livro infantil.

No livro, o autor parte de sua própria vivência para embarcar em uma narrativa que apresenta o cotidiano da comunidade através da janela de sua casa.

Becos e vielas ganham cores, bichos e outros elementos lúdicos em uma obra que reverencia o legado do realismo-fantástico latino-americano. A historia ainda é acompanhada pelas ilustrações de Viana Starkoff.

Nascido e criado entre os complexos da Penha e Alemão, Otávio Junior se tornou um dos mais importantes nomes da literatura infantil nacional – Instagram/Divulgação

A literatura mudaria a vida de Otávio ainda na infância, quando aos 8 anos encontrou o livro infantil “Dom Gatão” jogado no lixo. Tornou-se porta de entrada para outras vivências artísticas e passou a frequentar exposições, teatros e, claro, bibliotecas. Filho de pedreiro e dona de casa, o menino do morro carioca hoje é ator, contador de histórias, produtor teatral e escritor.

Dom Quixote do Alemão

Otávio, que se define um ativista da literatura, foi além. Afinal, não fazia sentido guardar para si tudo o que aprendeu na imensidão dos livros.

E com a ideia de democratizar o acesso à literatura, deu vida à primeira biblioteca comunitária nos complexos da Penha e do Alemão. Criou ainda outros três projetos, como “Ler é 10”, ação itinerante que distribuía livros na região onde vive, a Barracoteca Hans Christian Andersen (em homenagem ao autor de A Pequena Sereia e Patinho Feio)  e o centro educacional “Favela Lúdica”.

“Barracoteca” atende a dezenas de crianças e jovens moradores dos complexos da Penha e Alemão – Facebook/Divulgação

Em entrevista ao Uol, certa vez, Otávio resumiu sua trajetória. “Eu acredito na força na literatura, da arte e da educação como uma ferramenta de transformação. Essa é a forma que eu encontrei para incentivar os jovens a buscarem, persistirem e insistirem nos seus sonhos. Eu quero olhar lá na frente e ver a favela vencendo através da minha arte e da minha perseverança”