Precisou Manu defender Babu pra entenderem que existe racismo no BBB
É aquela velha história: se o preto fala de racismo, ninguém liga. Mas se o branco fala, todo mundo ouve
Manu Gavassi protagonizou uma cena que sensibilizou boa parte do grupo de fãs do Big Brother Brasil (BBB20), da Globo, na noite da última segunda-feira, 6, durante o Jogo da Discórdia.
A cantora tinha que completar a frase “eu não gostei quando…” com algum acontecimento negativo que outro participante tenha cometido contra ela ao longo dos mais de 70 dias de confinamento.
Porém, antes de fazer um discurso sobre o que a incomodou pessoalmente, a amiga de Bruna Marquezine não deixou passar batida uma cena de racismo escancarado envolvendo Babu Santana e Gizelly Bicalho. O programa estava ao vivo quando a advogada achou que seria adequado apontar como ofensiva para ela uma atitude que o ator teve com Daniel – já eliminado da atração. Segundo a capixaba, o artista teria ameaçado ‘dar uns cascudos’ no gaúcho, o que teria resgatado traumas que Gizelly enfrentou em sua casa ao longo da vida.
“Por mais que tenham outros momentos na casa com outras pessoas, essa é uma coisa que eu não aceito”, disse a sister.
Babu, por sua vez, se defendeu dizendo que não tinha como ele saber do passado de Gizelly e afirmou que Daniel fazia coisas muito piores com eles.
“O Dani vivia provocando a gente em um nível que a gente falava: ‘Meu Deus do céu… Graças a Deus que hoje eu sou um homem maduro e consigo ter o controle das minhas emoções’. Era um cara que não respeitava o coletivo. Eu falei que se eu tivesse 20 anos menos, eu ia tretar com ele feio. Eu sempre me coloquei na posição de que eu queria me libertar da minha masculinidade tóxica. Isso é realmente uma coisa feia”, admitiu ele um pouco contrariado, já que ele não tinha feito nada diretamente com Gizelly desde que a conheceu.
Foi então que Manu resolveu se manifestar, pois achou que o brother estava sendo injustiçado naquele momento. Chorando, a cantora disparou:
“Defendendo o Babu, ele é um cara, sim, que eu já tive conflitos, mas é extremamente aberto a diálogo. Nos primeiros dias, quando ainda estava todo mundo na casa, os meninos ficavam se chamando de ‘arrombado’, ‘viado’, e eu falei que achava um pouco ofensivo caras héteros querendo se ofender chamando os outros disso. Todo mundo cagou para o que eu falei, mas o Babu veio conversar comigo e disse: ‘Você tem razão no que você falou, eu nunca tinha pensado nisso’. E em outras vezes, quando falamos sobre feminismo, ele se mostrou aberto. A Gi me falou que isso tinha chateado ela, e acho válido se chateou ela, mas ninguém nunca conversou com ele ou apontou isso pra ele. Tenho certeza que se tivesse apontado, ele teria falado: ‘Jamais foi minha intenção usar essa expressão’. Eu sei disso, porque ele já falou várias vezes de como ele era, de como ele mudou e de como ele não quer que o filho dele tenha esse temperamento e seja agressivo. Então, eu acho que isso poderia ter sido resolvido lá atrás, quando foi dito”.
Assista ao momento abaixo:
Mais tarde, depois de acabar a atração ao vivo, Manu foi chorar com as amigas Thelma e Rafa no Quarto do Líder e esclareceu mais – para quem ainda tivesse dúvidas – de que aquilo que aconteceu com o ator foi racismo.
“Quando eu vi ele tentando se defender, eu falei caralh*, porque que um cara, que tem os erros dele de criação, mas é um doce com a gente, só fala dos filhos o tempo inteiro com o maior carinho do mundo. Quando ele fala dos filhos me lembra meu pai falando de mim e da minha irmã. Que coisa pesada!”. “Eu falei pra Gi antes: ‘Puxa ele de lado e fala o que você não gostou. Eu abomino sua postura'”, disse a cantora. “Você falar no ao vivo é fod*”, completou Rafa. “Nesse momento, vê-lo tentando se defender daquilo, desse comentário tão horrível, tipo, me doeu”, finalizou Manu.
A atitude e as palavras da sister comoveram os internautas, que também saíram em defesa de Babu e, ao que parece, entenderam que o brother pode, sim, ter sido alvo de racismo diversas vezes dentro do reality. E, mais uma vez, a gente faz uso de uma expressão que, apesar de velha, infelizmente parece bem atual: se o preto fala de racismo, ninguém liga. Mas se o branco fala, todo mundo ouve. Né?
Outro ponto que podemos analisar dentro do jogo é a forma como Ivy, Marcela e Gizelly têm se comportado com o adversário. Em conversa com a modelo, o ator tentou explicar que foi segregado por elas, após criar vínculos com Felipe Prior, e esclareceu um ponto de sua convivência com as três: “Nunca fiz nada para vocês. Nunca!”. E mesmo assim, Babu foi votado quase todas as semanas por pelo menos duas delas.
Ivy, inclusive, parece não ter entendido nada do discurso de Manu e após o Jogo da Discórdia, voltou a afirmar que não acha que Babu e Thelma sofrem racismo.
“Ser preto não é malefício nenhum. Quanto mais morena eu fico mais eu gosto. Eu gosto é muito. ‘Posso falar que quero ficar no sol pra ficar preta?’, perguntei pra Thelma. E ela disse que não, porque eu nunca vou ficar preta. Mas é muita coisinha que incomoda. Mas se incomoda, tudo bem. Mas ficar falando disso, pra quê? Todo mundo é igual, todo mundo merece o prêmio, se é branco, moreno, preto. São seres humanos. O que eles querem dizer é que sofrem mais pelo racismo. Pode ser, eu acredito, a Marcela disse que tem muito. Mas ninguém aqui vejo sendo racista com eles”. Embora Ivy tenha que aprender muito ainda sobre como não ser racista, segundo a declaração dela, a única vez que ela entendeu que o racismo existe, foi quando Marcela, branca e loira, disse que existe. Precisamos falar mais alguma coisa?
Como denunciar racismo
Racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89 e deve sempre ser denunciado, mas muitas vezes não sabemos o que fazer diante de uma situação como essa, nem como denunciar, e o caso acaba passando batido.
Para começar, é preciso entender que a legislação define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, prevendo punição de 1 a 5 anos de prisão e multa aos infratores.
A denúncia pode ser feita tanto pela internet, quanto em delegacias comuns e nas que prestam serviços direcionados a crimes raciais, como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que funcionam em São Paulo e no Rio de Janeiro.
No Brasil, há uma diferença quando o racismo é direcionado a uma pessoa e quando é contra um grupo. Confira aqui a diferença e saiba quando se deve denunciar uma atitude racista.