8 dados chocantes sobre o aborto no Brasil que você precisa saber
A cada dois dias, uma mulher morre vítima de aborto inseguro no Brasil
Alvo de polêmicas no campo da política e da sociedade, o aborto é um tema de saúde pública que precisa ser discutido com urgência no Brasil, principalmente sob a ótica da garantia dos direitos reprodutivos das mulheres. Por ser ilegal e feito de maneira clandestina, o procedimento é uma das principais causas da mortalidade materna.
No país em que 850 mil mulheres abortam clandestinamente todos os anos, a Câmara aprovou na noite desta terça-feira, dia 26, uma emenda que recomenda ao governo se posicionar contra a prática. Aprovado em votação simbólica, o texto estabelece que o Ministério dos Direitos Humanos siga os princípios do Pacto de São José, de 1969, que afirma que o direito à vida deve ser protegido “desde o momento da concepção”.
Segundo a Folha de S.Paulo, a emenda foi apresentada pelo deputado Diego Garcia (PHS-PR), integrante da bancada religiosa, e só obteve votos contrários por parte de PT, PCdoB e PSOL. A proposta, incluída no texto de uma medida provisória que criou novos ministérios no governo, ainda precisa passar pelo Senado. Com a defesa do Pacto, a bancada religiosa tenta vetar o aborto mesmo em casos em que é permitido atualmente – após estupros, quando há risco à vida da gestante e no caso de fetos anencéfalos.
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Outra manobra para proibir o procedimento será votada na próxima semana pela Câmara dos Deputados. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC 181/15), que amplia a licença-maternidade em casos de bebês prematuros, pode tornar mais restritiva a legislação do aborto ao incluir na Constituição que o direito à vida começa “na concepção”.
Diante deste cenário, as discussões sobre o tema têm ganhado ainda mais força. Nesta quinta-feira, 28, marcada pelo Dia Latino-Americano e Caribenho de Luta Pela Descriminalização do Aborto, serão realizadas manifestações e atividades em luta pela legalização em todo o Brasil e nos demais países.
“É importante instituir datas como esta para que o mundo se volte a essa tão relevante discussão e quebre alguns estigmas sobre o assunto, entendendo os reais motivos para o aborto ser criminalizado no país e percebendo que as consequências desta criminalização são nefastas”, diz a advogada Mariana Serrano, co-fundadora da Rede Feminista de Juristas.
A PEC 181/15
A votação da PEC 181/15 está programada para a próxima quarta-feira, dia 4 de outubro, em uma comissão especial formada por 28 deputados – 24 deles publicamente contrários à legalização do aborto e dos quais apenas três são mulheres.
A proposta, inicialmente, discutia apenas estender a licença-maternidade para até oito meses em caso de parto prematuro. Segundo o texto, no caso de nascimento prematuro, a licença de 120 dias concedida à gestante será ampliada à quantidade de dias de internação do recém-nascido, não podendo exceder 240.
Ao mesmo tempo, o parecer do deputado Tadeu Mudalen (DEM-SP), relator da PEC 181/15, alterou dois artigos da Constituição. O artigo 1º passaria a ter a expressão “desde a concepção” quando fala da “dignidade da pessoa humana”. O termo também foi incluído no artigo 5º, que pode garantir “a inviolabilidade do direito à vida desde a concepção”.
“Quando a gestação representa risco à vida da gestante, ou quando for fruto de um estupro, a mulher tem o direito de interrompê-la, e, ao incluir essa ‘garantia de inviolabilidade do direito à vida desde a concepção’ na PEC, o que o deputado propõe é que esses direitos se tornem inconstitucionais e, portanto, não existam mais”, explica a advogada.
“Essa proposta é um ataque direto aos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Isso porque, embora precisemos ampliar esse entendimento e descriminalizar o aborto em sua totalidade, existem conquistas que já foram feitas e que não podem retroceder”, completa Serrano.
A comissão para discutir o aborto foi criada em dezembro de 2016, após decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pressionado pela bancada religiosa. A medida ocorreu em resposta ao Supremo Tribunal Federal (STF), que definiu que a prática não deveria ser considerada crime no primeiro trimestre da gravidez.
A lei no Brasil
De acordo com o artigo 124 do Código Penal Brasileiro, o aborto é considerado um crime contra a vida. A pena prevista é de um a três anos caso o procedimento tenha sido provocado pela gestante ou com seu consentimento e de três a dez anos caso seja induzido por terceiros sem o consentimento da gestante.
O aborto só não é punido em três situações: em caso de estupro, risco de morte para a mãe ou se o feto for diagnosticado com anencefalia, uma doença causada pela má formação do cérebro do feto na gestação.
Para a advogada, a proibição do aborto no país não é sobre a proteção do feto, mas relacionada à condição econômica da gestante. “Nos países de desigualdade social acentuada, como no caso do Brasil, o crime do aborto só chega às pessoas pobres. O crime é ser pobre, não abortar! E é um crime que custa caro para a gestante”, declara.
“Proibir o aborto não reduz o número de vezes em que o procedimento é realizado, pois as mulheres não vão mais aceitar esse controle sobre seus corpos. E fechar os olhos para isso é concordar com a morte de todas as outras mulheres que não têm condições econômicas de arcar com o aborto seguro“, finaliza.
Abaixo, o Catraca Livre reuniu 8 dados chocantes sobre o aborto:
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A cada dois dias, uma mulher morre vítima de aborto inseguro no Brasil. Todos os anos, ocorrem 1 milhão de abortos clandestinos.
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São 250 mil internações no SUS (Sistema Único de Saúde) e R$ 142 milhões gastos por causa de complicações pós-aborto.
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Uma em cada cinco mulheres até os 40 anos já abortaram no país, segundo a Pesquisa Nacional do Aborto, desenvolvida pela Anis – Instituto de Bioética.
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As mulheres que abortam são, em geral, casadas, já têm filhos e 88% delas se declaram católicas, evangélicas, protestantes ou espíritas.
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Cerca de 20 milhões dos abortos são realizados no mundo de forma insegura todos os anos, resultando na morte de 70 mil mulheres, sobretudo em países pobres e com legislações restritivas ao aborto.
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97% dos abortos clandestinos ocorrem em países em desenvolvimento. Ao mesmo tempo, 80% dos países desenvolvidos permitem o procedimento.
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Uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde e do Instituto Guttmacher (EUA), publicada em 2016, demonstrou que nos países em que o aborto é proibido o número de procedimentos não é menor do que em lugares onde é legalizado.
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Em 2007, Portugal autorizou o aborto até as 10 semanas de gestação. Dez anos depois, pesquisa da ONG Associação para o Planejamento da Família mostra que o número de abortos caiu e as mortes decorrentes da prática são quase nulas. Na década de 1970, eram 100 mil abortos, sendo que 2% deles resultavam em morte, enquanto dados de 2008 mostram que o país registrou 18 mil abortos e, hoje, este número está em queda constante.
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