Casamento pode impactar saúde mental através das bactérias da boca, revela estudo

Depressão e ansiedade podem se espalhar entre casais por meio de bactérias bucais compartilhadas, segundo pesquisadores

01/06/2025 19:05 / Atualizado em 03/06/2025 16:38

Casais podem compartilhar mais do que imaginam, incluindo influências microscópicas em sua saúde mental
Casais podem compartilhar mais do que imaginam, incluindo influências microscópicas em sua saúde mental - EyeEm Mobile GmbH/istock

Uma pesquisa recente realizada no Irã revelou que o beijo, que faz com que os casais compartilhem bactérias orais, pode impactar diretamente o humor, o sono e até aumentar os riscos de depressão e ansiedade entre eles.

O estudo, publicado na revista científica Exploratory Research and Hypothesis in Medicine, acompanhou 1.740 casais recém-casados ao longo de seis meses. A descoberta foi surpreendente: quando um dos parceiros sofria de depressão, ansiedade e insônia, o outro, inicialmente saudável, passou a apresentar alterações no microbioma oral, acompanhadas de sintomas como estresse elevado, piora no humor e distúrbios de sono.

Como as bactérias da boca podem alterar seu humor?

A troca de bactérias entre casais ocorre de forma natural, através de:

  • Beijos
  • Compartilhamento de alimentos
  • Respiração no mesmo ambiente

No estudo, os pesquisadores observaram que bactérias específicas, como Clostridia, Veillonella, Bacillus e Lachnospiraceae, se tornaram mais presentes nos dois parceiros. Estas bactérias já são associadas, em estudos anteriores, a distúrbios como depressão, ansiedade e alterações no sono.

A troca de bactérias pode contribuir para sintomas como depressão e ansiedade entre casais
A troca de bactérias pode contribuir para sintomas como depressão e ansiedade entre casais - Bet_Noire/istock

Eixo microbiota oral-cérebro

Os cientistas apontam que essas bactérias podem afetar diretamente o cérebro, por meio do chamado “eixo microbiota oral-cérebro”, uma via de comunicação entre os microrganismos da boca e o sistema nervoso. Elas podem comprometer a barreira hematoencefálica, permitindo que substâncias inflamatórias afetem o cérebro, influenciando o humor e os padrões de sono.

Mulheres são mais afetadas

O estudo também revelou que as mulheres são mais suscetíveis às alterações tanto no microbioma quanto nos sintomas emocionais. Esposas de parceiros com depressão apresentaram aumentos mais significativos nos níveis de cortisol (o hormônio do estresse) e tiveram maiores taxas de ansiedade, depressão e insônia após seis meses.

Essas descobertas indicam que os tratamentos convencionais para depressão e ansiedade podem precisar ser repensados. Em vez de focar apenas no indivíduo, os profissionais de saúde mental podem precisar considerar o casal como unidade terapêutica.

Além disso, o estudo sugere que intervenções no microbioma oral, como o uso de probióticos específicos, mudanças na dieta e melhora da saúde bucal, podem se tornar aliados importantes no tratamento de distúrbios emocionais.

Limitações do estudo

Apesar dos resultados, o próprio estudo reconhece algumas limitações, como um acompanhamento de apenas seis meses e amostra restrita a casais iranianos de língua persa.

Não foi possível provar que as bactérias causam os sintomas, apenas que estão fortemente correlacionadas
Ainda assim, o achado reforça uma percepção comum em terapia de casais: os problemas de saúde mental afetam o relacionamento como um todo, não apenas quem sofre diretamente dos sintomas.

A pesquisa abre portas para um novo entendimento da saúde mental nos relacionamentos. Se a troca de bactérias pode contribuir para sintomas como depressão e ansiedade, investir na saúde bucal, no equilíbrio do microbioma e no cuidado mútuo pode ser tão importante quanto o acompanhamento psicológico.