Cientistas que pesquisam cloroquina sofrem ameaças de morte no AM
Ataques de bolsonaristas começaram após o grupo suspender parte do estudo por conta da morte de 11 pacientes
A Polícia Civil do Amazonas está investigando as ameaças de morte feitas ao grupo de pesquisadores que estudam os efeitos da cloroquina no tratamento do novo coronavírus (covid-19). A informação é da Folha.
Os ataques feitos militantes do presidente Jair Bolsonaro começaram após o grupo suspender parte do estudo por conta da morte de 11 pacientes.
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As denúncias foram feitas pelo médico Marcus Lacerda, que lidera a equipe de pesquisadores da Fundação de Medicina Tropical e pesquisador da Fiocruz-AM.
“Filho da puta maldito. Deve ser espancado quando pisar na rua!!” e “Assassino comunista fdp” foram algumas das mensagens recebidas pelo médico Marcus Lacerda.
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“A interpretação equivocada do ativista e seus seguidores foi de que todas as mortes ocorridas no estudo se deveram ao uso das altas doses, sendo que nem todos os pacientes usaram a alta dose e todos eles tinham covid-19 muito grave, vindo a falecer por conta da doença, o que ocorreu dentro da média mundial. Todos os registros estão disponíveis no centro, de acordo com as boas práticas clínicas, seguidas por toda a equipe de profissionais envolvidos no estudo”, disse o médico.
O desdobramento da publicação, segundo Lacerda, gerou ataques a ele, à família e à equipe de pesquisadores envolvidos no estudo. “A Polícia Militar do Estado do Amazonas está vigilante e garantindo a segurança imediata de todos”, informa ainda a nota.
Entenda o caso
A pesquisa realizada em Manaus, no Amazonas, observou que uma alta dosagem da medicação pode causar quadros severos de arritmia ou batimentos cardíacos irregulares.
Ao todo, 81 pacientes foram submetidos ao ensaio clínico. Eles receberam uma dose alta de cloroquina (600mg duas vezes ao dia por 10 dias, uma dose total de 12g) ou uma dose baixa de 450mg por cinco dias (duas vezes somente no primeiro dia, uma dose total de 2,7g). Além disso, todos os pacientes receberam ceftriaxona e azitromicina para complementar o tratamento.
Os pesquisadores observaram que os pacientes tratados com alta dose de cloroquina apresentaram uma tendência à letalidade maior (17%) do que aqueles que receberam a dosagem mais baixa. Nesse segundo grupo, a letalidade foi de 13,5%. “Tais resultados nos forçaram a interromper prematuramente o recrutamento de pacientes para este braço [da pesquisa]”, diz o estudo preliminar publicado no site da área da saúde chamado medRxiv.org.
De acordo com os autores, os resultados sugerem que a dosagem mais alta de cloroquina (regime de 10 dias) não deve ser recomendada para o tratamento de covid-19. Eles também reforçam a necessidade de novas pesquisas médicas sobre o uso do medicamento contra a doença causada pelo novo coronavírus.
O estudo foi financiado pelo Governo do Estado do Amazonas, Farmanguinhos (Fiocruz), SUFRAMA, CAPES, FAPEAM e fundos federais concedidos por uma coalizão de senadores brasileiros.