Como a “moda” de jogos de azar pode virar transtorno mental grave

Especialista alerta para risco de compulsão, dependência e até depressão causadas pelo vício em jogos

As plataformas online de jogos de azar – como o “jogo do tigrinho” as “bets” – ganharam espaço nos últimos anos, movimentando altos montantes e ganhando um número cada vez maior de adeptos. Mas esse hábito de apostar de forma virtual pode acabar em transtorno mental.

É considerado vício em jogos o comportamento de persistir em jogar recorrentemente, apesar de consequências negativas ou do desejo de parar.

Em uma pesquisa recente do Datafolha, 30% dos brasileiros de 16 a 24 anos afirmam que já apostaram em jogos de forma virtual.

O número para todo o país é de 15%, onde 7% dizem que não apostam mais e 8% continuam. 

Vício em jogos de azar pode causar até depressão, alerta psiquiatra
Créditos: VitalikRadko/DepositPhotos
Vício em jogos de azar pode causar até depressão, alerta psiquiatra

De acordo com o Dr. Ariel Lipman, médico psiquiatra e diretor da SIG – Residência Terapêutica, trata-se de um problema cada vez mais frequente e grave.

“O jogo de azar traz uma promessa de ganhar dinheiro rápido e fácil, de qualquer lugar do mundo, em qualquer dia e horário, mas é um perigo, acima de tudo, devido ao risco de acarretar transtornos mentais”, explica o profissional.

Vale ressaltar que, ao longo dos últimos anos, o vício em jogos pela internet atingiu um número maior de pessoas por conta de sua facilidade.

Se, antigamente, a pessoa precisava sair de casa para apostar em uma casa de jogos, hoje consegue-se jogar de qualquer lugar, dentro de casa, do celular ou do computador.

Os possíveis transtornos mentais 

Esse vício em jogar pode ter como consequência o desenvolvimento de um transtorno patológico de compulsão ou dependência, que envolve doenças, como dependência química e compulsão alimentar, ou seja, são problemas graves.

“No caso do vício em jogos, a grande maioria das pessoas acumula perdas e dívidas, gerando sentimento de impotência e vergonha, com o agravante de que muitas vezes elas realmente perdem tudo o que têm”, complementa o Dr. Lipman.

Segundo ele, casos em que pessoas pedem adiantamento do salário ou do 13º salário poder continuar jogando é tipicamente o sintoma de quem está em uma escalada de dependência, em uma compulsão.

Vício pode levar à depressão e outros males 

O especialista explica ainda que, dependendo do nível do vício, esses indivíduos podem ainda desenvolver outros problemas de saúde mental, como depressão.

Vale lembrar que, segundo a OMS, o Brasil é o país mais ansioso do mundo, com 9,3% da população afetada por esse transtorno mental. 

Além disso, essas pessoas podem também ter problemas de insônia, e até mesmo declínio no desempenho acadêmico e profissional.

“A dedicação excessiva aos jogos pode resultar em queda de produção em outros aspectos da vida, pois a falta de concentração, a procrastinação e a negligência de responsabilidades são consequências comuns observadas em indivíduos viciados em jogos”, resume.

O ato de apostar é viciante também por conta da liberação de dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer e à recompensa, ocorre durante a jogatina.

“Ele acaba incentivando o comportamento repetitivo e levando ao desenvolvimento do vício, assim como acontece em outras situações”, opina o psiquiatra.

Intervenções e tratamentos

É importante procurar um médico e um psicólogo para que o problema seja acompanhado de perto e tratado de forma adequada.

Além de possíveis medicações que o psiquiatra pode prescrever, algumas estratégias também podem ajudar no tratamento.

“O apoio familiar é de extrema importância, mas estabelecer uma rotina equilibrada é a chave para a recuperação”, explica o médico.

Segundo ele, incentivar a adoção de hábitos saudáveis, como a prática de exercícios físicos, uma dieta balanceada e a melhoria dos padrões de sono, pode contribuir significativamente para a recuperação.