Conheça os sintomas do câncer de esôfago que Pepe Mujica enfrentava

O diagnóstico nos estágios iniciais da doença é um desafio, pois os sintomas são sutis

Por Silvia Melo em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
13/05/2025 17:03 / Atualizado em 14/05/2025 21:48

O ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, morreu nesta terça-feira, 13, ao 89 anos, após suspender o tratamento para um câncer de esôfago que havia se espalhado pelo corpo. A doença foi diagnosticada em abril de 2024 em um exame de rotina.

A causa da morte não foi divulgada, mas Mujica estava em estado terminal e recebia cuidados paliativos para alívio da dor, em casa. Além disso, ele convivia há anos com uma doença autoimune que comprometia o funcionamento dos rins.

O câncer de esôfago é uma condição grave que frequentemente apresenta sintomas sutis em seus estágios iniciais, tornando o diagnóstico precoce um desafio.

Esse órgão é um tubo muscular que liga a garganta ao estômago. Sua principal função é transportar o alimento e os líquidos ingeridos até o estômago para serem digeridos.

Pepe Mujica recebia cuidados paliativos em casa
Pepe Mujica recebia cuidados paliativos em casa - José Cruz/Agência Brasil

Principais sintomas do câncer de esôfago

Os sintomas do câncer esofágico podem variar conforme o estágio da doença, mas alguns sinais são comuns:

  • Disfagia (dificuldade para engolir): é frequentemente o primeiro sintoma, inicialmente com alimentos sólidos e, à medida que o tumor cresce, também com líquidos.
  • Perda de peso inexplicada: ocorre devido à dificuldade de alimentação e ao impacto metabólico do câncer.
  • Dor ao engolir (odinofagia): sensação de dor ou queimação ao deglutir alimentos ou bebidas.
  • Rouquidão persistente: pode ocorrer se o tumor afetar os nervos que controlam as cordas vocais.
  • Tosse crônica ou seca: especialmente se houver irritação ou fístula entre o esôfago e a traqueia.
  • Vômito com sangue (hematêmese): indica sangramento no trato digestivo superior.
  • Fadiga e fraqueza: devido à anemia causada por sangramentos crônicos.

É importante notar que esses sintomas podem ser confundidos com outras condições menos graves, como refluxo gastroesofágico ou úlceras. No entanto, a persistência ou progressão desses sinais deve ser investigada por um profissional de saúde.

Câncer mais comum entre os homens

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), no Brasil, o câncer de esôfago é o sexto mais frequente entre os homens e o 15º entre as mulheres. No mundo, ele é o oitavo mais frequente e sua incidência em homens é cerca de duas vezes maior do que em mulheres.

O tipo mais frequente é o carcinoma epidermóide (CEC), responsável por 96% dos casos. Apesar de mais raro, o adenocarcinoma (AC) vem aumentando significativamente em frequência nas últimas décadas na população ocidental, devido ao aumento da prevalência da obesidade e da doença do refluxo gastroesofagiano.

O esôfago é um tubo muscular que liga a garganta ao estômago
O esôfago é um tubo muscular que liga a garganta ao estômago - mr.suphachai praserdumrongchai/istock

O que aumenta o risco de câncer de esôfago?

O consumo frequente de bebidas muito quentes como chimarrão, em temperatura de 65ºC ou mais, pode levar ao câncer de esôfago.

Além disso, bebidas alcoólicas também podem desencadear a doença, não havendo níveis seguros de ingestão, de acordo com o Ministério da Saúde. Outros fatores de risco incluem:

  • cigarro – o tabagismo isoladamente é responsável por 25% dos casos de câncer de esôfago;
  • excesso de gordura corporal;
  • refluxo gastroesofagiano;
  • esôfago de Barrett e esofagite de refluxo;
  • tilose – hiperqueratose palmar e plantar (endurecimento da pele provocado pela produção excessiva de queratina);
  • megaesôfago causado pela doença de Chagas;
  • tumores de garganta, boca e pescoço;
  • exposição a poeiras da construção civil, de carvão e de metal, vapores de combustíveis fósseis, óleo mineral, herbicidas, ácido sulfúrico e negro de fumo.