Coronavírus pode ficar ativo no corpo por mais tempo do que imaginávamos
Estudo brasileiro alerta que tempo de isolamento de pacientes atualmente recomendado pode ser insuficiente
Quando alguém está infectado com o novo coronavírus, recomenda-se que essa pessoa fique em isolamento por 14 dias. Acontece que o tempo mínimo necessário pode ser maior que isso. É o que alertou um estudo feito pelo Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP), com apoio da Fapesp.
Os pesquisadores observaram que, embora o tempo médio de permanência do Sars-CoV-2 no organismo seja 14 dias em alguns pacientes, esse período pode chegar a 30 dias em outras pessoas. Isso aconteceu com duas participantes dos estudo. Ambas de aproximadamente 50 anos e moradoras de São Caetano do Sul, no ABC paulista.
O artigo feito com 50 voluntários foi publicado na plataforma medRxiv e está sendo revisado por outros cientistas.
Uma das mulheres começou a apresentar sintomas leves, como tosse seca, dor de cabeça, fraqueza e dor no corpo em abril de 2020. O exame RT-PCR confirmou a presença do coronavírus. Dias depois, apareceram outros sinais da infecção pelo coronavírus, como náusea, vômito, perda de olfato e paladar. Ela realizou um segundo teste 37 dias após o início dos sintomas e o resultado foi positivo novamente.
A segunda paciente relatada no estudo foi diagnosticada no quinto dia de sintomas. Ela apresentou febre, dor de cabeça, tosse, fraqueza, coriza, náusea e dor no corpo e articulações. Como os sintomas persistiram, no 24º dia após o início dos sintomas, ela realizou outro teste, e o resultado foi positivo mais uma vez.
“Por se tratar de casos atípicos, as amostras de secreção nasofaríngea coletadas para diagnóstico foram levadas ao IMT-USP para uma análise aprofundada. O material foi inoculado em uma cultura de células epiteliais e, após diversos testes, confirmamos que o vírus ali presente ainda estava viável, ou seja, era capaz de se replicar e de infectar outras pessoas”, contou a coordenadora do grupo de estudo Maria Cassia Mendes-Correa à Agência FAPESP.
Na avaliação da pesquisadora, portanto, os dez dias de isolamento recomendados atualmente pelo Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos para casos leves podem não ser suficientes para evitar novas contaminações.
Outro braço da pesquisa conduzida no IMT-USP envolve o monitoramento de indivíduos imunossuprimidos infectados pelo novo coronavíus.
De 10 voluntários incluídos no projeto, um deles – um paciente que passou por um transplante de medula óssea – ainda apresenta a infecção ativa no organismo há mais de seis meses.
“As análises indicam que a carga viral em seu organismo é elevada e que o vírus é altamente infectante. Por esse motivo ele continua em isolamento, mesmo passado um longo período após o início dos sintomas”, conta Mendes-Correa.
A pesquisadora ressalta a necessidade de monitorar com atenção casos como esse, que oferecem condições ideais para o surgimento de variantes virais potencialmente mais agressivas.
“O fato de o vírus permanecer se replicando no organismo por tanto tempo favorece a seleção de mutações que conferem vantagens ao microrganismo. Esse paciente tem um alto grau de imunossupressão e está sendo monitorado de perto, dentro de um protocolo de pesquisa. Mas também é preciso se preocupar com a parcela da população que apresenta graus mais leves de imunossupressão, como os portadores de doenças autoimunes [que fazem uso de fármaco imunossupressores], por exemplo”, alerta Mendes-Correa.