Entenda como o vírus do beijo pode causar esclerose múltipla
Embora 90% dos adultos já tenham se infectado com o vírus, nem todo mundo vai desenvolver a doença
Estudos recentes revelam que duas doenças completamente diferentes, a esclerose múltipla e a mononucleose, possivelmente têm o mesmo gatilho: o vírus Epstein-Barr (EBV), da família do herpes, também conhecido como vírus do beijo.
A mais recente pesquisa realizada pela Universidade de Harvard confirmou que o risco de desenvolver esclerose múltipla passa a ser 32 vezes maior em uma pessoa infectada pelo vírus no passado.
A infecção por outros vírus, no entanto, não apresentou nenhum risco significativo.
Estudo durou 20 anos
O estudo de Harvard é baseado em um acompanhamento de 10 milhões de militares dos EUA durante duas décadas.
Os pesquisadores, analisaram amostras coletadas dos participantes a cada dois anos para estabelecer a relação entre o vírus EBV e a esclerose.
A partir dessas amostras, os pesquisadores determinaram se – e quando – os doadores foram infectados com o vírus do beijo. Do total analisado, 801 pessoas que desenvolveram a esclerose múltipla.
Eles então os compararam com amostras de mais de 1.500 pessoas com características semelhantes que não desenvolveram a doença e encontraram uma taxa muito maior de infecção pelo vírus Epstein-Barr entre as pessoas que manifestaram a esclerose.
Dos 801 casos da doença, apenas uma pessoa teve resultado negativo para o vírus em sua última amostra coletada antes do início dos sintomas da esclerose.
Os pesquisadores não encontraram tal associação entre a esclerose múltipla e quaisquer outros vírus humanos.
De acordo com os autores do estudo, os resultados não podem ser explicados por nenhum fator de risco conhecido para esclerose múltipla e sugerem que o EBV é a principal causa da doença.
Outros especialistas, no entanto, não acreditam que o estudo prove conclusivamente uma relação causal. Eles acreditam que possam ser necessários agentes adicionais, como uma predisposição genética, por exemplo, uma vez que nove em cada dez pessoas em todo o mundo estão infectadas com EBV e a maioria não desenvolve a doença.
Esse vírus, como qualquer um da família do herpes, pode ficar incubado no organismo por anos, se adaptando às células imunológicas.
Como ocorre a transmissão?
O vírus Epstein-Barr causador da doença mononucleose é transmitido principalmente pelo contato direto com a saliva de um indivíduo infectado, por isso leva o nome popular de doença do beijo.
A transmissão também pode acontecer ao usar os mesmos talheres da pessoa com a doença ou por meio de transfusão de sangue.
Esclerose múltipla
A esclerose múltipla é uma doença autoimune, em que o sistema imunológico passa a agredir a bainha de mielina, responsável por transmitir sinais para outras células. Esse dano prejudica os comandos do cérebro para o resto do corpo. O paciente pode sofrer com alterações na visão, no equilíbrio e capacidade muscular.
De acordo com o Ministério da Saúde, a doença atinge 20 mil pessoas no Brasil, principalmente adultos jovens, entre 20 e 55 anos. As mulheres são a maioria.
Tratamento
Embora não exista cura para a doença, o tratamento ajuda o paciente a ter uma vida ativa. “Não é atestado de óbito ou de invalidez”, garante o neurologista especialista em Esclerose Múltipla, o Dr. Mateus Boaventura.
“Pelo fato de se manifestar por meio de surtos, é possível que algumas sequelas oriundas do surto permaneçam, como problemas de força ou visão. Por isso é extremamente importante procurar um especialista no primeiro sinal da doença, controlar e tratar. É completamente possível viver com qualidade de vida e com a doença controlada”, diz o médico.
Ainda segundo o especialista, quando tratada precocemente e corretamente, a expectativa de vida não é tão diferente da população geral.
“Outro conceito é que não se morre pela doença em si”, diz ele. “A doença causa um processo inflamatório responsável pelos surtos, lesionando as próprias células nervosas, porém, nenhuma das sequelas tem efeito degenerativo ou compromete o funcionamento de algum órgão vital. O que pode ocorrer em pacientes com grandes sequelas e sem mobilidade, são maiores chances de outras doenças como infecções e trombose”, explica.
O Sistema Único de Saúde (SUS) conta com a Política Nacional de Atenção ao Portador de Doença Neurológica para atender pacientes com esclerose múltipla e demais doenças neurológicas.
Ao todo, a rede pública oferta 44 procedimentos clínicos e de reabilitação para a doença, de forma integral e gratuita.
Também há um conjunto de medicamentos ofertados especificamente para tratamento de esclerose múltipla aos pacientes cadastrados no Componente Especializado da Assistência Farmacêutica.