Estudo descobre doença que parece proteger contra Alzheimer

A motivação do estudo surgiu após um dos pesquisadores notar que não conseguia encontrar um único paciente com a doença que tivesse Alzheimer

Por Silvia Melo em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica Generalista - CRMGO 33271)
28/08/2024 11:30

Um estudo recente sugere que pessoas diagnosticadas com esclerose múltipla (EM) podem ter maior proteção contra o desenvolvimento da doença de Alzheimer.

Essa descoberta surpreendente desafia suposições anteriores sobre a EM e abre novos caminhos para a compreensão de ambas as condições.

O estudo foi conduzido por uma equipe de pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos EUA. 

A esclerose múltipla é uma doença autoimune na qual o sistema imunológico do corpo ataca erroneamente a cobertura protetora dos nervos no cérebro e da medula espinhal.

Isso pode levar a uma ampla gama de sintomas, desde problemas de visão até dificuldade de movimento e equilíbrio.

Pesquisadores descobrem que pessoas com esclerose múltipla (EM) podem ter mais proteção contra a doença de Alzheimer.
Pesquisadores descobrem que pessoas com esclerose múltipla (EM) podem ter mais proteção contra a doença de Alzheimer. - peterschreiber.media/istock

Por outro lado, a doença de Alzheimer é um distúrbio cerebral progressivo que afeta lentamente a memória e as habilidades de pensamento, eventualmente interferindo na capacidade de uma pessoa de realizar tarefas simples.

Durante anos, cientistas acreditaram que pessoas com EM poderiam ter maior risco de Alzheimer. O pensamento era que o dano causado pela EM poderia tornar o cérebro mais vulnerável aos tipos de mudanças vistas no Alzheimer.

No entanto, esta nova pesquisa, publicada no Annals of Neurology, vira essa ideia de cabeça para baixo.

A motivação do estudo surgiu após um dos pesquisadores notar que não conseguia encontrar um único paciente com EM que tivesse a doença de Alzheimer típica.

Detalhes do estudo

O estudo observou os cérebros de pessoas com EM depois que elas faleceram. O que a equipe descobriu foi surpreendente: esses cérebros tinham muito menos acúmulo de uma proteína chamada beta-amiloide do que o esperado.

A beta-amiloide é um fator-chave na doença de Alzheimer. Quando se acumula no cérebro, forma aglomerados ou “placas” que são uma marca registrada da condição.

Encontrar menos dessa proteína nos cérebros de pacientes com EM sugere que eles podem ter menos probabilidade de desenvolver Alzheimer.

Esta descoberta é particularmente intrigante porque vai contra o que poderíamos esperar. A EM causa inflamação no cérebro, e a inflamação é geralmente considerada como um fator que aumenta o risco de Alzheimer.

O que poderia explicar esta “proteção”?

Os pesquisadores têm algumas teorias. Uma possibilidade é que as mudanças no sistema imunológico desencadeadas pela EM podem de alguma forma ajudar a eliminar o beta-amiloide antes que ele possa se acumular.

Outra ideia é que os medicamentos usados ​​para tratar a EM podem ter um efeito protetor contra o Alzheimer.

No entanto, é importante notar que isso não significa que pessoas com EM sejam imunes ao Alzheimer ou outras formas de demência.

O estudo sugere um risco menor, não nenhum risco. E a esclerose múltipla em si pode causar problemas cognitivos que podem ser confundidos com demência.