Estudo faz descoberta sobre paradoxa conexão entre câncer e obesidade

A obesidade é um dos fatores de risco para o câncer, mas - por outro lado -, indivíduos obesos podem responder melhor à imunoterapia contra a doença

12/06/2024 21:03

O fato de a obesidade poder contribuir para a progressão do câncer, mas também melhorar a resposta do paciente à imunoterapia, é conhecido como o “paradoxo da obesidade”. Agora cientistas descobriram uma informação importante que pode explicar esse fenômeno.

Acadêmicos, liderados por cientistas do Centro Médico da Universidade Vanderbilt, nos EUA, esperam que a descoberta possa um dia levar a melhorias nesse tipo de tratamento.

O estudo, publicado na revista Nature, descreve como as células do sistema imunológico chamadas macrófagos desempenham um papel inesperado neste contexto.

Detalhes do estudo

Ao estudar ratos e amostras de tumores de pacientes com câncer renal, eles descobriram que a obesidade aumenta o número de macrófagos em tumores cancerígenos e aumenta a produção de uma proteína chamada PD 1.

O PD 1 é alvo de imunoterapias contra o câncer – um tipo de medicamento que aproveita o sistema imunológico do próprio paciente para combater o câncer.

Pesquisadores descobrem por que Indivíduos obesos podem responder melhor à imunoterapia contra o câncer
Pesquisadores descobrem por que Indivíduos obesos podem responder melhor à imunoterapia contra o câncer - Andreus/DepositPhotos

Os pesquisadores disseram que o aumento da PD-1 suprime a “vigilância imunológica” dos macrófagos – e, como resultado, suprime as células T assassinas (as células imunológicas que podem matar as células cancerígenas). Isso, por sua vez, permite o crescimento dos tumores.

Isto poderia ajudar a explicar o aumento do risco de câncer associado à obesidade, disseram eles.

Ainda segundo a equipe de pesquisa, o PD 1 também agiu diretamente nos macrófagos para suprimir a sua função.

Por isso, quando a imunoterapia bloqueou a proteína, ajudou estas células do sistema imunitário que expressam PD-1 a desempenhar o seu papel no sistema imunitário.

Isto poderia explicar por que as pessoas obesas podem ter uma resposta melhor à imunoterapia.

Ao estudar tumores humanos, também descobriram que quando as pessoas perdiam peso, a expressão de PD-1 em macrófagos nos tumores parecia diminuir.

A obesidade é o segundo principal fator de risco modificável para o câncer, atrás apenas do tabagismo. E os indivíduos obesos têm um risco maior de piores resultados. Mas também podem responder melhor à imunoterapia.

“Como é que pode haver um resultado pior, por um lado, e um resultado melhor, por outro?”, questionou o professor Jeffrey Rathmell, diretor do Centro Vanderbilt de Imunobiologia,

Rathmell acredita que compreender como estes processos funcionam biologicamente pode dar pistas sobre como melhorar a imunoterapia em geral.

O que é a imunoterapia?

A imunoterapia, em termos simples, é uma forma inovadora de tratamento médico que utiliza o sistema imunológico do próprio corpo para combater doenças, especialmente o câncer.

Em primeiro lugar, é importante destacar que, diferentemente de tratamentos tradicionais, a imunoterapia visa a fortalecer as defesas naturais do corpo. Assim, objetiva torná-lo mais eficaz na detecção e eliminação de células cancerígenas.

Em que casos usar a imunoterapia?

A imunoterapia é indicada principalmente quando outras formas de tratamento, como quimioterapia ou radioterapia, não são eficazes.

Apesar de proporcionar uma nova esperança, esse tipo de tratamento não ajuda todo paciente com câncer.

Os melhores resultados até agora alcançados foram no combate aos cânceres de pulmão, bexiga, melanoma, estômago e rim.

Estudos atestam ainda a eficácia no tratamento de um subtipo do câncer de mama, chamado triplo negativo, e de Linfoma de Hodgkin, um câncer hematológico grave.

Além disso, é indicada para pacientes com câncer que apresentam mutações ou biomarcadores específicos que tornam o tumor mais suscetível à resposta imunológica.

A decisão de utilizar a imunoterapia depende de vários fatores, incluindo o tipo e estágio do câncer, a saúde geral do paciente, e a presença de biomarcadores que possam prever a resposta ao tratamento.