Estudo sugere que é possível “pegar” depressão do seu parceiro através do beijo

Pesquisa descobre que parceiros de pessoas com depressão e ansiedade desenvolvem alterações nas bactérias da boca e podem apresentar sintomas semelhantes

Por Silvia Melo em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
08/06/2025 19:06 / Atualizado em 23/06/2025 22:48

Os casais podem compartilhar mais do que imaginam, incluindo influências microscópicas em sua saúde mental
Os casais podem compartilhar mais do que imaginam, incluindo influências microscópicas em sua saúde mental - Tero Vesalainen/istock

Um estudo inédito realizado no Irã revelou que viver a dois pode impactar diretamente a saúde mental. Segundo os pesquisadores, casais não apenas compartilham afeto, mas também bactérias presentes na boca, e isso pode influenciar sintomas como depressão, ansiedade e distúrbios do sono.

Como o microbioma oral afeta a saúde mental?

O microbioma oral é o conjunto de micro-organismos que vivem na boca. De acordo com o estudo, quando um dos parceiros sofre de depressão e ansiedade, o outro começa a desenvolver um microbioma semelhante. Essas mudanças estão ligadas ao aumento de bactérias como Clostridia, Veillonella, Bacillus e Lachnospiraceae, já associadas a alterações no cérebro e no humor.

O que a pesquisa descobriu?

Os pesquisadores acompanharam 1.740 casais iranianos recém-casados durante seis meses. Os resultados mostraram que parceiros de pessoas com o chamado “fenótipo depressão-ansiedade” passaram a apresentar:

  • Aumento dos sintomas de ansiedade e depressão
  • Piora na qualidade do sono
  • Alterações na composição das bactérias da boca
  • Elevação dos níveis de cortisol, o hormônio do estresse

Beijos, saliva e convivência: como as bactérias se transmitem

A transmissão das bactérias ocorre através de atos comuns da vida a dois, como:

  • Beijos frequentes
  • Compartilhamento de alimentos e utensílios
  • Convivência em ambientes fechados, respirando o mesmo ar

O estudo revelou que as mulheres apresentaram alterações mais significativas tanto na flora bacteriana quanto nos níveis de estresse e nos sintomas de saúde mental. Isso sugere uma maior sensibilidade feminina a esse tipo de influência biológica no relacionamento.

Pesquisadores conduziram um estudo transversal com 536 casais iranianos (268 casais no total) que estavam casados ​​há, em média, seis meses
Pesquisadores conduziram um estudo transversal com 536 casais iranianos (268 casais no total) que estavam casados ​​há, em média, seis meses - Liudmyla Malysheva/istock

O que isso muda no tratamento?

As descobertas indicam que o tratamento da depressão e da ansiedade pode precisar considerar não apenas o indivíduo, mas o casal como um todo. Possíveis intervenções incluem:

  • Tratamento simultâneo dos dois parceiros
  • Uso de probióticos específicos para equilibrar o microbioma
  • Cuidados com a higiene bucal
  • Técnicas de redução de estresse para ambos

Limitações do estudo e próximos passos

Apesar dos resultados expressivos, o estudo tem limitações, como o tempo de acompanhamento restrito a seis meses e o fato de ter sido realizado em uma população específica. Além disso, os pesquisadores destacam que não é possível afirmar com total certeza que as bactérias causam diretamente os problemas de saúde menta, apenas que estão fortemente associadas.

Este estudo reforça uma ideia que terapeutas e especialistas já defendem: relacionamentos íntimos impactam profundamente a saúde mental. Agora, há uma possível explicação biológica para isso, através do compartilhamento de bactérias que podem influenciar o cérebro e o humor.